sábado, 15 de agosto de 2009

Nós até na alegria somos tristes.

O Dr. Carlos Simão, natural de Tarouca, há muitos anos vive e trabalha longe daqui. Mas não esquece a sua terra que visita sempre que lhe é possível. Todos os meses delicia os leitores do "Sopé da Montanha" com as suas reflexões.
Acaba de enviar um interessante texto para publicação naquele mensário. Pela sua importância, achei por bem trazê-lo à consideração dos amigos visitantes deste blog, até porque para tal tenho autorização do autor.

ALEGRIA E CRENÇA

A nossa maneira de ser portuguesa nunca foi para grandes demonstrações de alegria. Ao contrário dos nossos irmãos brasileiros, que até na desgraça são alegres, nós até na alegria somos tristes.
Lembra-me que o compositor António Vitorino d’Almeida afirmou que a maioria das nossas canções populares são em tom menor. Parece portanto que já nos está na massa do sangue uma tristeza e um pessimismo seculares.
Vem isto a propósito das festas e romarias que, sobretudo durante o Verão, se realizam por todo o lado. (...)

Uma coisa se pode verificar: essas manifestações, que em princípio deviam ser de alegria, estão intimamente ligadas ou relacionadas com os santos da Igreja Católica. A pergunta que se coloca é: porquê então a alegria, a boa disposição, o optimismo jubiloso não são companheiros fiéis destas festas? Parece exteriormente que a música, o barulho, o riso são sinais duma alegria íntima, mas não. As festas cristãs, infelizmente, estão ainda muito impregnadas duma tristeza e duma sisudez que contraria a esperança cristã fundada na alegria da Ressurreição de Cristo. Só agora as Missas começam a dar algum sinal dessa alegria porque realmente a celebração da Eucaristia é ou deve ser uma festa.
Dá a impressão que os cristãos portugueses sempre estiveram mais voltados para Sexta-Feira Santa que para o Domingo de Páscoa. E é precisamente o Domingo de Páscoa que celebramos todos os Domingos.
Daí que as nossas festas populares sejam manifestações pagãs de sentimentos onde falta a tal alegria íntima. Daí as queixas de tantos porque outros não respeitam as celebrações litúrgicas seja a Missa seja a procissão.
Quando a alegria não vem do íntimo, só há arremedos de boa disposição e de riso fácil. A culpa não é só das pessoas que durante os actos litúrgicos se mostram indiferentes ou desrespeitosos. A culpa é também dos próprios cristãos que parece não acreditarem profundamente na esperança que Cristo nos trouxe e que Deus é felicidade. A culpa é também do modo como se organizam as celebrações religiosas. Às vezes parecem mais um funeral que uma manifestação de esperançosa alegria que Crista nos trouxe. Se não tomarmos consciência disto, continuamos a ter pessoas indiferentes às nossas manifestações de fé.
Carlos A. Borges Simão

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