A passagem de ano está aí. A comunicação social faz-se eco. Voos super-esgotados para Brasil, Madeira, Cabo Verde, Veneza, Praga ... Hotéis algarvios com boa percentagem de ocupação, etc, etc, etc.
Afinal, onde está a crise de que tanto se fala???
1. É claro que a crise não é para todos. Em tempos de crise, há sempre quem engorde com a mesma. Disto todos nós sabemos.
2. Há hoje na nossa sociedade um superficialismo feroz. O que interessa é gozar a vida; o que conta é não ficar atrás do colega de emprego ou do vizinho. Se eles vão, nós não somos menos do que eles... Nem que para isso, tenhamos que recorrer ao crédito ou hipotecar o ordenado do mês (meses) seguinte (s).
3. Penso que aqui se coloca a diferença entre o litoral e o interior. De onde são a esmagadora maioria dos milhares que deixam o país para gozar a passagem de ano noutras paragens? Penso que não erro: do litoral. O interior continua ao abandono, cada vez mais pobre e longe do acesso ao progresso. Parece que toda a gente enxerga isto, menos o governo.
4. Por isso, acho extraordinária a coragem do Bispo da Guarda. Não teve medo de pôr o dedo na ferida. Mas só a diocese da Guarda sofre com a desertificação? Não terão o mesmo problema dioceses como Portalegre e Castelo Branco, parte da de Viseu, Lamego, Bragança, entre outras? Só que ... Silêncio!!!
5. Somos um país que vive imenso para a aparência, para o dar nas vistas, para o parecer. Não nos preocupa o essencial. Não investimos, não criamos riqueza. Vendemos o que temos - que os estrangeiros compram - e colocamos o dinheiro na Suíça e em paraísos fiscais. Somos capazes de nos esfarraparmos para comprar um carro caro e telemóveis aos montes, mas não nos preocupa poupar para ter a nossa casinha com condições. Gastamos fortunas em passeios e viagens e não investimos cêntimos na cultura, nos livros, na arte... Estamos sempre à espera que outros ajudem e não fazemos contas. Basta dar uma vista de olhos pela internet e ficamos pasmados com a quantidade de carros, casas, bens penhorados que vão a leilão, porque as mensalidades aos bancos ficaram por pagar. No estrangeiro os portugueses trabalham e rendem, mas cá dentro não o fazem.
6. Penso que o novo ano nos devia ajudar a pensar. Que povo somos? Que projecto temos? Não podemos continuar na eterna dependência dos subsídios da União Europeia, até porque um dia acabarão. Urge uma educação para a cidadania e para o essencial; para a liberdade da criatividade e do investimento; é importante confiarmos mais nas nossas capacidades e deixaremos de ser os eternos "coitadinhos" de mão estendida para a autarquia, para o governo, para a Europa. Urge deixarmos de fazer a "figura de rico" e assumirmos a condição de trabalhadores a sério e construtores do nosso bem colectivo.
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