O gesto chega de Aveiro e do seu Bispo. D. António Francisco dos Santos consoou numa instituição de solidariedade, que acolhe pessoas pobres e desprotegidas. Que melhor homilia???
A palavra vem da Guarda e do seu Bispo. D. Manuel Felício foi corajoso, ousado, profético. Vejo na mensagem do D. Manuel uma ressonância do desafio papal: "É preciso mudar". Também a linguagem. Também em coragem.
À mensagem do Bispo da Guarda fui buscar hoje as ideias básicas para a minha homilia.
Aqui deixo o texto de D. Manuel Felício.
Mensagem do Presépio de Belém
Todos os anos o Natal nos oferece a oportunidade de contemplar a Beleza e o Mistério do Presépio de Belém.
A manjedoira com o Menino, Nossa Senhora e S. José a contemplá-lo, os próprios animais por perto, parecendo querer associar-se, a serenidade e a paz que a noite inspira naquele campo de pastores, longe dos jogos de interesses próprios de ambientes palacianos – é este o quadro escolhido pelo próprio Deus para entrar no coração da Humanidade, fazendo-se um de nós, pobre com os pobres e amigo de todos, a começar pelos excluídos.
O Filho Único de Deus nasce, de facto, fora da cidade, num curral de animais, porque não havia para ele lugar nas casas das famílias nem nas hospedarias. Passou despercebido ao burburinho da cidade onde os populares se cruzavam, intensamente absorvidos pelos negócios e pela política (era tempo de recenseamento).
Mas Ele tem uma palavra para dizer a todos, aos que estão dentro e aos que estão fora da cidade; aos bem incluídos no processo e nos programas do desenvolvimento, como também aos que deles ficam excluídos.
É essa palavra dirigida a todos que nós queremos descobrir, este Natal, olhando para o Presépio montado em nossas casas, nos serviços públicos ou pelas ruas da nossa cidade.
Uma palavra que denuncia o materialismo e consumismo de muitos, mas também anuncia o amor de Deus para todos; palavra que convida a participar na aventura de construirmos em conjunto uma sociedade mais humana e solidária. É particularmente palavra dirigida aos responsáveis pela condução da nossa vida pública, pedindo-lhes que olhem preferencialmente para os que são parentes pobres do desenvolvimento. E neste Natal estou a lembrar as legítimas queixas feitas recentemente pelos autarcas do Distrito da Guarda ao Sr. Presidente da República, a lembrar-lhe o drama da desertificação humana dos nossos ambientes. Compreendemos que o Presidente da República tenha ficado sem palavras para responder, de imediato, com as medidas adequadas a esta situação preocupante. Mas já não compreendemos que a máquina da organização política, subordinada a interesses de crescimento económico fácil, não dê ouvidos a este apelo.
Estamos, de facto, perante um drama de proporções alarmantes, que põe em risco a sobrevivência de muitas das nossas aldeias e obriga as populações locais a deixar as suas terras. Mas é também um drama que todo o país precisa de sentir como seu, pois sem o desenvolvimento das potencialidades que nos são próprias todo o país fica mais pobre e a qualidade de vida de todos os portugueses irremediavelmente prejudicada.
A palavra do Menino de Belém é, por isso, também para que os políticos e outros responsáveis pela vida pública assumam a coragem de construir um futuro equilibrado para todo o nosso país, de tal maneira que sejamos um país e uma nação onde todos têm vez e voz. E consequentemente é necessário assumir a coragem de promover a discriminação positiva para as regiões mais pobres de meios promotores do desenvolvimento, como a nossa e com essa finalidade saber aproveitar a oportunidade única constituída pelo aproveitamento do Quadro de Referência Estratégico Nacional que vigora nos próximos seis anos.
Que o Menino de Belém seja o grande presente deste Natal para todos os homens e mulheres de boa vontade, principalmente para aqueles de quem mais depende a defesa dos direitos de todos e a definição do futuro da nossa sociedade.
Natal de 2007
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda
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