terça-feira, 24 de março de 2009

Impressão minha

Há dias publiquei neste blog um breve post em que partilhava uma impressão pessoal. Nele houve sobretudo uma frase que foi a origem de algumas mensagens enviadas por amigos para o meu email pessoal. Uma ou outra pessoa questionou-me pessoalmente sobre o significado do post. "Onde queria chegar?"
A frase é esta: " Não estará a Igreja a resvalar para posições próximas dos tradicionalistas?"

1. Não afirmei, lancei uma pergunta. Com propósitos de provocar o debate.
2. Não transmiti certezas, mas impressões. E estas valem o que valem...

Claro que me preocupa - e muito - o proliferar de sites fundamentalistas na internet que, à maneira dos fariseus, se consideram "os verdadeiros católicos" e para quem todos os que não pensam nem sentem como eles são hereges modernistas, apóstatas , relativistas, excomungados...
Claro que me preocupa a contínua invasão da caixa de correio por múltiplas mensagens do tipo super-conservador e até fundamentalista.
Claro que me preocupa que, no topo da Igreja, não haja a mesma caridade cristã para com os "progressistas" que há em relação aos "tradicionalistas".
Claro que me preocupa a lentidão no processo de canonização de Óscar Romero, enquanto o processo de canonização de outros avançou rapidamente.
Claro que me preocupa alguma ênfase dada a assuntos mais secundários como "os sinais exteriores identificáveis" em relação aos sacerdotes.
Claro que me preocupa algum tipo de legalismo rígido que contende com o valor inigualável da pessoa humana. Refiro, por exemplo, a actuação daquele bispo brasileiro em relação a todo o caso da menina de 9 anos.
- Claro que me preocupa a maior "heresia" dos tempos modernos. Gente que não sentindo espaço nem acolhimento debanda... Gente que gostava de caminhar a um ritmo mais acelerado e que, ao não ter possibilidades de o fazer, sai.
- Nesta Ano Paulino, ainda não interiorizamos a liberdade pregada e vivida pelo Apóstolo. Este foi capaz de discordar publicamente de Pedro, sem com isso colocar em risco a unidade. Há quem seja mais papista que o Papa, mesmo correndo o risco de obscurecer Cristo.
- Por fim, penso que muitos de nós andamos longe do essencial: Jesus Cristo. Pouca abertura, pouca oração, pouca confiança, pouca transfiguração. Não temo uma pessoa conservadora ou progressista desde que seja alguém apaixonado por Jesus Cristo. Temo os rótulos vazios de substância.

1 comentário:

  1. Efectivamente, o faraisaísmo é mais frequente e auto-satisfatório que a autenticidade; a predilecção pelo conservadorismo é mais natural e dá mais segurança; a manutenção do "status quo" é mais apetecível e confortável.
    No entanto, o Evangelho, se é de completamento, também exige, por vezes, o movimento de ruptura, de frontalidade, de agitação, de reviravolta. Pena é que habitualmente se atenda mais à instalação das ideias, das atitudes, dos afectos e dos comportamentos que às moções do Espírito, à força renovadora, ao movimento transformador. E estes são muito mais abundantes do que aquilo que somos levados a pensar. A História da igreja está pejada de fenómenos destes, muitas vezes eclipsados pelo supino clima de desconfiança reinante.
    Mesmo da alta hierarquia vem o pensamento de que o Papa tem a missão de confirmar os irmãos na fé. Mas parece entender-se essa missão como se fosse de aceitar passivamente ou com encómios a crença estabilizada, quando a Fé é operativa (sem obras é morta), revolucionária (movedora de montanhas) e subversiva - porque fundada na Morte e Ressureição de Cristo - e inconformada - perante a miséria e as atitudes indignas e indignificantes.
    É por isso que viver o presente não basta. Importa construir o futuro com as luzes que o passado projecta no presente a "curtir" o percurso do ser humano, que, no seu devir, não pode deixar-se afogar nesta sociedade consumista e corruptora, com os valores totalmente baralhados.

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