sábado, 27 de dezembro de 2008

As partilhas são sempre um momento crítico

Não há pais perfeitos, mas há pais menos imperfeitos.
Pais que vivem para os filhos, cultivando a verdade e a justiça nas relações familiares.
Pais que ao longo da sua existência se doam de corpo e alma aos filhos, tantas vezes esquecidos de si próprios.
Pais que, mesmo idosos, continuam a viver para servir.

Meu pai deu tudo à partilha. Nada quis para ele. E porque nós, os seis filhos, sabemos bem do seu espírito de justiça, pedimos-lhe que fosse ele a fazer as partilhas. Desde há muito me auto-exclui da herança, contra a sua vontade e a de meus irmãos. Mas para que queria eu as terras? Não as posso granjear, não tenho tempo para cuidar delas. Além disso, o que se há-de deixar ao tarde deixa-se ao cedo. Assim os meus irmãos ficaram com mais um pouquito. Só quando percebi da sua imensa tristeza pelo facto de nada me deixar, aceitei, com o total consenso dos outros irmãos, um espaço, antiga vacaria. Pronto, tenho ali alguma coisa que meus pais me deixam...

Na sexta-feira passada, meu pai percorreu com meus irmãos todas as demarcações que havia feito. Todos viram e concordaram. À noite, foi o sorteio. Estive presente. Não vivi a ansiedade dos outros manos. Estava calmo e só preocupado em que tudo corresse bem. Por nada desejava que este acto viesse afectar a nossa grande amizade e unidade. Naturalmente que houve quem ficasse mais contente e quem ficasse um pouco desiludido. Havia sonhado com este ou aquele espaço e afinal calhou-lhe outro. Mas logo ali se realizaram algumas trocas entre eles por livre e espontânea vontade. Hoje toda a gente confirmou o que lhe tocou, realizaram entre eles alguns ajustes e... ESTÁ TUDO BEM. Todos contentes. Felizmente que a família continua unida. Obrigado, Senhor! Parabéns, manos, por terdes sabido honrar a memória querida da nossa mãe e a presença doante de nosso pai.

Pai, muito obrigado! Sempre te conheci um homem sem vícios, sem fugas. A tua grande paixão foram sempre os teus filhos para quem viveste, com intensa entrega, o melhor que soubeste e foste capaz. Hoje, ao ler o Evangelho que falava de Simeão, lembrei-me de ti. Também tu és um homem justo e temente a Deus.
Sei a sensação de vazio que experimentaste ontem. Afinal aquelas terras conquistaste-as a pulso graças ao teu trabalho e de minha mãe. A experiência de que nada é teu neste momento, faz-te sofrer. Mas sei também que o fizeste por coerência. Sempre deste tudo aos filhos e por isso, na hora das partilhas, nada reservaste para ti.

Naquela casa nunca houve dinheiro, contas bancários e quejandos. Dou graças a Deus. É que o dinheiro tudo corrói, de tudo suspeita, é intriguista, malévolo e possessivo. A sua ausência foi para a minha família fonte de paz, unidade, entreajuda.

Sei que minha mãe, a minha querida princesa, está ainda mais feliz no Céu ao ver que a família continua unida. Graças à sua intercessão junto de Deus.

1 comentário:

  1. Lemos, em voz alta, e com a presença do pai, esta mensagem.
    Muito obrigada!
    Sabemos que fica o "vazio" - sentimo-lo no sorriso triste, no olhar...
    Mas sentimos também a alegria da "doação" em favor dos que mais ama.
    Apesar da "partilha" e do sentimento de pertença que cada um experimenta por este pedaço de terra, é unânime a vontade de que tudo se mantenha ao dispor do pai.
    Damos Graças a Deus pela nossa Família!
    Os Manos.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.