A catequista veio ter comigo com ar de festa. O Nuno (nome fictício) não lhe tem dado descanso na catequese. É uma criança de oito anos. Ela já algumas vezes me tinha feito queixas dele.
A maioria dos seus ralhetes são para ele; a maioria das chamadas de atenção idem, idem; perguntas disparatadas e que não têm nada a ver com o que se está a tratar, são quase sempre dele!
Há dias disse mesmo que não acreditava em nada do que a catequista dizia. E atirou o catecismo ao chão, para que todos vissem que estava a falar a sério.
A vida do Nuno não tem sido fácil. É filho duma família desestruturada e o que lhe vai valendo é a avó que vive perto.
A catequista veio ter comigo radiante. O Nuno tinha-se portado bem nos últimos encontros da catequese. Parecia agora uma criança meiga e feliz. O que teria acontecido?
Há umas três semanas apareceu no grupo a tossir muito. Estava bastante constipado e talvez mesmo com princípios de gripe. Nesse dia só se sentiu que estava na sala porque volta e meia tossia e assuava-se.
No fim a catequista chamou-o à parte e levou-o a uma pastelaria. Pediu para ele um leite quente com muito mel. Comprou-lhe também um bolo. Levou-o para ao pé de si na Missa e disse-lhe que ia pedir a Jesus para o curar. Que ele pedisse também.
«E olhe que o Nuno nunca mais foi o mesmo! Quer sempre estar ao pé de mim e até manda calar algum colega que se esquece que está na catequese ou na Missa!...»
«Temos namoro pela certa» – disse-lhe a brincar.
Mas o caso fez-me pensar mais uma vez em como o mundo seria outro se todas as crianças fossem criadas com o afecto que merecem e precisam.
Alguém me disse uma vez logo a seguir ao seu divórcio: «Como é que eu posso amar se nunca soube o que era o amor?!»
Boa questão para pais e educadores.
M. V. P., in O Amigo do Povo
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