Onde houver polémicas, feridas, amarguras, insultos, imposições, aí não se procura a verdade.
E isto por duas razões: a primeira, porque - como escreveu Romain Rolland - “é preciso amar a verdade mais que a si mesmo; mas é preciso amar o próximo mais que a verdade”. Toda a verdade usada para pisar os homens, converte-se imediatamente numa mentira. A segunda razão porque todo o homem inteligente - e ainda mais todo o crente - sabe que “toda a verdade é o centro dum círculo, e para chegar a esse centro há tantos caminhos como raios”. “Os que são semelhantes a Cristo - dizia Claudel - são semelhantes entre si com uma diversidade magnífica”. E como diz Newman, basta um momento de reflexão para nos convencermos de que sempre houve posições diferentes na Igreja e sempre as haverá, e se terminassem de vez, era sinal de que teria cessado toda a vida espiritual e intelectual”.
Parece, porém, que isso não está na moda. Nunca se falou tanto de pluralismo, e nunca os crentes foram tão intolerantes uns com os outros. Tanto abominar da Inquisição, e agora temos uma em cada paróquia e em cada coração. “Parece - escreveu o Padre Congar - que o demónio inspirou ao homem moderno um certo espírito de cisma, no sentido genuíno da palavra, porque, em vez de comungar no essencial respeitando as diferenças, dedica-se a distinguir-se, a opor-se ao máximo e a transformar em motivo de oposição aquilo mesmo que poderia ter com os outros em espírito de comunhão”.
Mas a discórdia não é cristã. “E impossível - dizia S. Cipriano - que a discórdia tenha acesso ao reino dos céus”. É que a paixão fanática pela verdade que brota do egoísmo, é dura, agressiva, impositiva, causadora de divisão. Ao passo que — di-lo a carta de S. Tiago — “a sabedoria que vem de cima é pura, pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e o fruto da justiça semeia-se na paz”.
In "Tempo de inquisidores", Razões para o amor
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