quarta-feira, 12 de junho de 2019

DICIONÁRIO E LENGA LENGA - VOCABULÁRIO E EXPRESSÕES TÍPICAS, BRINQUEDOS E JOGOS TRADICIONAIS

  1. Alho – Pedaço de terreno que, involuntariamente, ficava por lavrar ao passar o arado.
  2. Aluviar – Parar de chover
  3. Amansar – Amestrar, ensinar animal a trabalhar.
  4. Amariar – diz-se da água quando corre sozinha bem distribuída pela terra
  5. Ameijoar – Agachar
  6. Apegar - primeira rega das batatas. Depois desta primeira rega, seguiam-se outras, alternadamente "a abrir" ou "a talhar"
  7. Apeguilhar – Comer com conduto
  8. Apeiro - Conjunto formado pelo jugo com assôgas e tamueiro e as molhelhas.
  9. Aqueibar – Guiar, dar para trás ("aqueibar as vacas").
  10. Arranca – Tirar as batatas da terra.
  11. Arrelentar – Desbastar, arrancar plantas onde estas estão muito bastas.
  12. Arretranca – Peça para segurar a albarda
  13. Arrocho – Pau arqueado em forma de meia lua, para apertar a carga de burros ou cavalos.
  14. Assadura – Fêvera assada na brasa, no dia da desmancha do porco, cerca de um dia após a matança.
  15. Assôga – Fita de couro para prender a vaca, com molhelha, ao jugo.
  16. Atupir – Cobrir com terra.
  17. Aveca – Peça da charrua
  18. Belga – pequeno terreno ou um rego de água não muito abundante.
  19. Bichas - Lombrigas
  20. Boeiro – abertura redonda no fundo de tanque ou poça, por onde se escoa a água.
  21. Boliadela – Surra.
  22. Botar – Pôr (deitar).
  23. Botelha – Abóbora.
  24. Breca – Cãibra
  25. Brêz – Cesta feita de palha e vimes.
  26. Bulhar – Zaragatear.
  27. Cabedulhos – cavação que se fazia nas margens do terreno, para preparar a lavragem.
  28. Cabresto – Protecção em rede de arame colocada no focinho do animal para evitar que este comesse.
  29. Cachocho – Conjunto de molhos de cereal encostados uns aos outros em cone, com a espiga para cima.
  30. Cambão – Pau ou utensílio para ligar duas juntas de vacas ou uma junta à charrua ou grade.
  31. Camboada – Duas ou mais juntas de vacas a puxar o mesmo carro ou arado.
  32. Candeias – Luz, lanterna; Estalactite de gelo pendente dos beirais.
  33. Cangalhas – Alfaia de madeira ou em ferro, usada em cima da albarda para transportar, por exemplo, estrume.
  34. Caniço – Armação sobre a lareira para secar lenha, castanhas e pôr o fumeiro.
  35. Carangueijo – Abrunho
  36. Caturnos (coturnos) – Meias
  37. Cava-terra – Toupeira
  38. Cegar/cegada – ceifar/ceifa
  39. Chambaril – Pau curvo usado para dependurar os porcos.
  40. Chamiço – Pequenos ramos ou paus de giesta, piorna para queimar (acender o lume).
  41. Chavelha – Pequeno artefacto de madeira com que se prendia o ao tamueiro.
  42. Chiba – Cabra.
  43. Chotar – Espantar ("chotar os pardais")
  44. Chuço – Pau aguçado para meter o milho na terra, ou descascar e debulhar as espigas.
  45. Cilha – Fita de coiro para apertar a albarda ao animal
  46. Cincelos – Pedacinhos de gelo suspensos dos ramos de árvores ou arbustos.
  47. Cônfia – Confiança
  48. Coanhos – Palha miúda resultante da malhada-
  49. Cortes – Parcelas de terreno marcado para cada um dos trabalhadores.
  50. Corcalhé – Codorniz brava.
  51. Corda de enquerer – Corda mais comprida com que se prendiam os molhos nas cargas dos burros ou cavalos.
  52. Cornelho – Fungo do centeio
  53. Corrilheira – Rodilha em forma de anel que se introduzia, como protecção, nos chifres das vacas nas hora de as jungir (diz-se "junguer").
  54. Corucho – Cume em forma de cone que encerrava a meda
  55. Crostos – Flocos de leite semelhantes a requeijão (de vacas recém-paridas).
  56. Curiosidades – Novidades, referido às sementeiras ou produtos da horta.
  57. Decrua – primeira lavragem em terreno bravio, para preparar uma segunda lavragem.
  58. Descressoar – Desanimar, desistir.
  59. Ejeminar – Examinar.
      1.        Embelgar – Fazer belgas, isto é, regos em paralelo para regar; ou marcar, com ramos, listras de terreno para deitar o adubo ou espalhar o cereal.
      2. Emedar – Fazer meda
      3. Empalhar – Dar a comida, na loja, a animais domésticos, mas também, deitar palha entre os pés de batata para a primeira rega (apega).
      4. Enchedeira – Peça em forma de funil largo para encher as chouriças.
      5. Endegar – Empatar ("és um endegueiro!").
      6. Enfornar – Meter o pão ao forno
      7. Engaço – Ancinho.
      8. Engalhar - Entreter, adormecer (bébé).
      9. Engronhido - Acanhado
      10. Enguedelhar – Bulhar.
      11. Enjarricado – Encolhido
      12. Enrrolheirar – Fazer rolheiro
      13. Entrudo – Carnaval
      14. Enxundia - Gordura
      15. Esborraçar – Esmagar, migar (esborrachar)
      16. Esfoira - Diarreia
      17. Escaleiras – Escadas em pedra.
      18. Escaramento – O mesmo que descaramento ou "lição" ("sirva-te de escaramento!")
      19. Escorrupichar – Fazer escorrer até à ultima gota.
      20. Esfoira - Diarreia
      21. Esprugar – Descascar batatas ou frutos.
      22. Estadulho – Fueiro, paus mais ou menos toscos usados nos carros de bois para segurar a carga.
      23. Estiada – Aberta, em tempo chuvoso
      24. Estoira-balas – Brinquedo artesanal feito de um canudo de sabugueiro e uma vareta que empurra uma bucha contra outra que sai com um estalido, por acção da compressão do ar.
      25. Estorruar – Afagar o terreno das batatas semeadas, antes que estas brotassem.
      26. Estrapuxar – Agitar-se, reagir.
      27. Estrugir – Refogar.
      28. Fardolo – Gasalho pequeno
      29. Fieito – Feto.
      30. Fieiro – Pequeno rego de água.
      31. Fintar/finto – Levedar/levedado (massa do pão).
      32. Forcado – Tipo de forquilha em pau com dois ganchos (dentes) por baixo e um por cima, para carregar gavelas de mato para estrume.
      33. Frumento – Fermento (resultante do rapar da gamela, que circulava entre os vizinhos).
      34. Fumeiro – Local onde se defumavam os salpicões, as chouriças, as buchelhas, as moiras, o presunto e o toucinho; conjunto dos produtos defumados.
      35. Gadanha – Colher de sopa
      36. Gamela – Tabuleiro em que se amassa o pão
      37. Gancho – Ancinho forte, em ferro para estorruar ou arrancar estrume das lojas e quinteiros.
      38. Gasalho – Míscaro (cogumelo comestível).
      39. Gavela – Pequena porção de tojo ou mato.
      40. Giga – Cesta em palha e vimes em forma redonda, onde se guardava o pão.
      41. Gorolo – Ovo infecundo
  60. Grade – Utensílio agrícola para alisar a terra lavrada e atupir a semente (diz-se: "agredar").
  61. Grangear – Cultiva terreno
  62. Irincus - Pirilampos.
  63. Lameira – Porção de terreno cultivável.
  64. Lenteiro – Terreno pantanoso
  65. Loja – Curral ou espaço de arrumações no rés-do-chão da casa.
  66. Lumieira – Pequeno rolo de palha usada para iluminar e queimar os pelos do porco depois de morto.
  67. Malina – Doença
  68. Mangar – Brincar
  69. Maquia – Parte do cereal que se dava ao malhador ou da farinha que se dava ao moleiro.
  70. Matadura – Ferida de animal
  71. Maúnça – Punhado de espigas de cereal unidas em forma de bouquet.
  72. Meda – Montão cónico feito com os molhos de cereal de modo a ficar impermeável.
  73. Moirão – pedra rectangular comprida que separa a cinza, debaixo da pilheira e a fogueira.
  74. Molhelha – Apetrecho em couro, palha e sarapilheira para proteger do jugo, a cabeça e cachaço das vacas.
  75. Nagalho – pedaço de pano usado para atar ou apertar.
  76. Nena – Boneca de trapos.
  77. Novela – Vaca jovem
  78. Novidades – Hortaliças ou outros produtos sobretudo do quintal.
  79. Palheiro - Meda de palha.
  80. Palhoça – Capote feito em colmo e junco (impermeável à chuva e neve).
  81. Pandorca – Gasalho grande.
  82. Paveia – Exposição do cereal ceifado, em forma de passadeira, para secar.
  83. Pernardos – Mato resultante da arranca que era posteriormente queimado.
  84. Picar – Amolar, afiar Gadanha para roçar mato
  85. Pilheira – Mesa de pedra atrás da lareira, por baixo da qual se guarda a cinza.
  86. Pinchar – Saltar para baixo.
  87. Pita – Galinha.
  88. Pito – Pinto; vulva.
  89. Piusga – Pequeno pião.
  90. Pôça – reservatório de água para rega, feito em terra batida.
  91. Polaina – Protecção feita de junco para que cobria os pés e pernas até ao joelho, usada juntamente com a palhoça para proteger da chuva.
  92. Praganas – Partículas das espigas do cereal
  93. Pular – Saltar.
  94. Pútega – Fruto em favos que nasce junto à raiz dos sargaços.
  95. Quinteiro – Varanda, na parte exterior da casa.
  96. Rabeiras – Resíduo de semente e areia acumulada nas malhadas.
  97. Rabiça – Mãozeira da charrua ou arado.
  98. Rapetas – Adereço que se coloca na charrua para rapar a erva durante a lavragem.
  1. Rebatina – Diz-se de éguas a dias.
  2. Rebusco – O que ficava depois da arranca, ou outra faina. Derradeira apanha.
  3. Rededoiro – Ramo feito com arbustos verdes, em forma de vassoura, para varrer o lastro do forno, depois de aquecido e antes de colocar as broas.
  4. Relão (pão de) – Pão de trigo.
  5. Relha – Peça pontiaguda que se aparafusava à aveca da charrua.
  6. Roga – Grupo de pessoas contratadas para um determinado trabalho.
  7. Rogar - Contratar
  8. Rolheiro – Meda de molhos de cereal, em duas águas, para escorrer a chuva.
  9. Rolho – Tampão de madeira para tapar as pôças e regular a saída da água para a rega.
  10. Saltarico – Gafanhoto.
  11. Sardanisca – Lagartixa.
  12. Sargaço – Planta rasteira, montesinha, que serve para estrume.
  13. Segada – Ceifa.
  14. Seitoira – Foice.
  15. Sémea – Pão de duas cabeças
  16. Sertã – Frigideira.
  17. Sobrecarga – Corda mais grossa com que se apertava toda a carga dos burros ou cavalos.
  18. Socas – Tamancas com sola em madeira e bota em cabedal.
  19. Socos – Tamancos com sola em madeira e bota em cabedal duro.
  20. Suã – Parte entremeada da carne de porco tirada das bandas.
  21. Taleiga – Saca de farinha
  22. Tallhadoiro – obstáculo de terra usado para desviar o curso da água nas regas
  23. Tamanco – Calçado feito com em coiro e rasto de madeira.
  24. Tamoeiro – Apetrecho de couro forte para prender a cabeçalha ou cambão ao jugo com uma chavelha.
  25. Tendedeira – Escudela para modelar as broas antes de meter ao forno.
  26. Testo (têsto) – Tampa de panela de ferro de cozer ao lume.
  27. Tio – Senhor.
  28. Torno – Apetrecho de madeira por baixo do carro, para segurar a carrada com a corda.
  29. Treitoira – Apetrecho de madeira em forma de meia lua, fixo no chedeiro, para segurar o eixo.
  30. Vencilho – Nagalho feito em palha ou feno enrodilhado (para atar os molhos).
  31. Vergalho – Verga usada para fustigar.
Expressões típicas

  1. À finca – Em competição.
  2. Agachar as calças – Fazer as necessidades maiores.
  3. A quem Deus tira dentes o diabo dá gengibras – Há sempre uma solução
  4. Aqui canta o cuco, aqui canta o gaio, aqui canta o cuco lá no mês de Maio.
  5. Andar de troca – Pagar o trabalho com trabalho
  6. Arre dianho! – Arre diacho!
  7. Às pás e às tantas: A certa altura…
  8. Cada montes! – Interjeição de espanto (meu Deus!)
  9. Cantés (quin’tés) – Quanto mais… (não sabes falar cantés escrever!)
  10. Cê pra trás! – Para mandar recuar um animal
  11. Comer um naco de pão para tapar o talhadoiro – para fechar a refeição.
  1. Correr à pedrada – Forma comum de delimitação territorial ou simples punição de quem não era bem-vindo.
  2. Dar com a carga em Alvite – Levar algo a termo ("Não dás com a carga em Alvite!")
  3. Deixar de velho – Deixar em pousio
  4. Deitar cá as águas – Conduzir a água para regar
  5. Deus ja livre! – Deus nos livre!
  6. Deus me ajude a casar em Penude, já que em Magueija não pude.
  7. Deus o permita! – Deus queira.
  8. Do cerejo ao castanho bem eu me amanho, do castanho ao cerejo é que eu me vejo!
  9. Estar com olhos de pita a pôr – Mostrar uma expressão apática, indolente.
  10. Estar sobrinçado – Estar todo partido
  11. Fazer a eira – Limpar e preparar a eira para a malhada. Era costume fazer a eira com bosta de vaca amassada em água e espalhada no chão que, depois de seca, formava um tapete consistente.
  12. Fazer pouco – Escarnecer.
  13. Fazer scárnio – Fazer pouco, escarnecer
  14. Ferver em cachão – Ferver muito
  15. Guardar a água – Vigiar os talhadoiros para que a água não seja desviada por outrem
  16. Ir à igemina – Ir ao ginecologista ou fazer um exame.
  17. Ir com as vacas – Ir para o pasto com as vacas.
  18. Ir pia cima – Ir para o monte (por aí acima).
  19. Louvores a Deus! – Menos mal, graças a Deus.
  20. Meter ao forno – Cozer o pão no forno, uma vez por semana. Quando faltava, pedia-se broa emprestada ao vizinho.
  21. Não roam as unhas! – Comam!
  22. O diabo não tem sono nem dorme! – A maldade está sempre à espreita
  23. O dianho a quatro – Ultrapassar os limites ("fez o dianho a quatro")
  24. Ó meu ver! – Pelos vistos!
  25. Pia fora, pia baixo, pi’além: Por aí fora, por aí a baixo, por aí além…
  26. Pilar – Descarcar (castanhas, favas…)
  27. Pila, pila, pila! – Para chamar as galinhas
  28. Pilha galinhas – Pindérico ("és um pilha galinhas").
  29. Por bia de; por mor de - Por causa de.
  30. Quer-se dizer! – isto é.
  31. Repuchar – Resmungar, refilar.
  32. Sume-te diabo! – Livra!
  33. Tapar o forno – Vedar a porta do forno do pão, normalmente com bosta de vaca.
  34. Tem-te! – Aguenta!
  35. Terminar um serviço – Planear.
  36. Um ror de – muito/a ("um ror de batatas").
  37. Verter águas – Urinar.
  38. Xô que está dia bô – Para "chotar" as galinhas.
Jogos tradicionais:

Pião: às canículas; à roda bota fora: O jogo do pião tinha a sua época bem definida: durante o carnaval e quaresma.
À coca: Jogo para adultos em que uns batiam com as mãos em punho nas costas dos concorrentes.
Cabra cega: Um dos jogadores, com os olhos vendados, tentava tocar ou agarrar os outros jogadores que, mantendo-se dentro de uma área previamente definida, lhe iam dando palmadas evitando ser tocados ou agarrados.

Choça - Os jogadores posicionavam-se, cada um com seu bastão na mão, em roda, a cerca de 2 metros de um buraco previamente preparado. A bola era deitada ao ar e quem lhe acertasse com o pau ganhava a bola e deveria conduzi-la com o pau até ao buraco, enquanto os outros tentavam, também com seus paus, impedir a bola de seguir o percurso pretendido. Este era um jogo muito popular entre os miúdos que andavam com as vacas no monte.
Par ou pernão: Jogado com confeitos que, escondidos na mão, eram propostos ao outro jogador que os ganhava se adivinhasse se eram em número par ou ímpar.

Espeta pau: Com paus aguçados, cada jogador tentava espetar o seu pau de modo a derrubar o dos adversários.

Espeta o prego: Com um prego longo, cada jogador tenta conquistar, furo a furo, o mundo representado num grande círculo.

Enguenchar: Jogo em que, até ao Sábado aleluia, se "mandava rezar". Obedecia a regras estabelecidas à partida: debaixo de telha, antes do tocar das Trindades etc.
Brinquedos:

Estoira balas: Um pau de sabugueiro, depois de se lhe retirar o miolo, servia de cano de disparo de uma arma infantil muito popular e inofensiva. No referido pau oco, eram introduzidas "balas", isto é, pequenas bolas feitas de pano humedecidas com saliva que, uma vez pressionadas com um pauzinho mais fino, disparavam umas a trás das outras, produzindo um estouro que entusiasmava a pequenada.

Carriço Feito com meia casca de noz à volta do qual se enrolava um fio forte e duplo, onde era engatado um pauzinho que, uma vez retorcido, encontrava no fio um efeito mola que permitia, devido à efeito de caixa acústica garantido pela casca da noz, produzir um bom efeito sonoro.
Para-quedas: Uma pena de falinha era espetada numa batata miúda ou num fruto que, uma vez deitado
Fonte: aqui
 

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