sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Não tenho medo de "vergar a mola"

Passava eu hoje por uma estreita estrada municipal, quando tive que parar. Uma carrinha parada junto de um pequeno armazém estava a ser carregada.
Muito simpaticamente o homem veio pedir-me um instante de paciência, dizendo que o carregamento do veículo estava quase concluído.
Pouco tempo depois, o senhor voltou a aproximar-se e pediu desculpa pelo estorvo. Como conversa puxa conversa, acabámos por falar um bocadinho. Dado que se aproximava outro carro, encostámos os nossos o mais possível à valeta e continuámos o diálogo.
O homem, já de cabelos grisalhos, a morar no Sul, disse que estava desempregado há mais de um ano, pois falira a empresa onde sempre havia laborado. Estava farto de gastar horas e horas no Centro de Emprego, havia cumprido tudo o que lhe fora sugerido, mas trabalho nem vê-lo. A esposa ia dando umas horas em trabalhos domésticos, mas até estas estavam escasseando "pois a crise afecta a todos." Os dois filhos estudavam.
Tinha vindo à aldeia, a casa dos pais para levar umas batatas, umas cebolas, etc. "O que me vale são estes dois velhinhos que, para além das suas forças, vão granjeando uns terrenitos. Estou muito grato aos meus pais, pois nesta idade precisavam que nós nos ocupássemos deles e não eles de nós."
Afirmou ainda que, nas últimas férias escolares, havia passado esse tempo com os filhos na aldeia, ajudando os pais nos trabalhos agrícolas e que no próximo Verão o voltaria  a fazer. "Não tenho medo de vergar a mola", acrescentou.
"Que tempos horríveis estamos a passar! E o que aí vem!", exclamou de olhar magoado. "Eu nunca tive medo do trabalho, tenho é medo da falta de trabalho. E então quando penso no futuro dos meus filhos, até fico com um nó no estômago..."
Falou depois que não sabia como o país ainda não se havia revoltado contra a situação. Sempre os mesmos a pagar! Os ricos e os causadores de crises passam sempre impunes; os políticos mentem, o que hoje afirmam, amanhã negam; os privilegiados continuam isentos de contribuir para a saída da crise. Parece que a eles ninguém toca...
Não conteve a revolta na voz quando se referiu à excepção aberta para o sector empresarial do Estado. "Haver excepções  para pessoas que já auferem vencimentos elevados!? É escandaloso, atentatório, diz tudo sobre esta 'politicagem' que temos!!"
Do fundo do coração, fiz minha por completo a sua indignação.

1 comentário:

  1. Bom dia, Sr. Padre Carlos.
    Subscrevo inteiramente tudo o que este português honrado e trabalhador afirmou.
    Quando será que aparece um Cícero português que diga em voz alta aquilo que todos sabemos e exija a saída imediata destes políticos bandidos e criminosos, que levaram o País para o abismo, enquanto eles, quais novos "Neros", se deliciam a ver Portugal a arder...?!

    Santo fim de semana. Paz e Bem.

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