Pancrácio Cara Linda possuía a única taberna da aldeia. Pela sua maneira de ser, áspero e impaciente, era conhecido por Trombudo ou Espanta Clientes. Era um mastodonte, mal encarado e rabugento. De tal maneiras que as crianças se arrepiavam sempre as as mães as enviam à venda para fazer qualquer compra.
Realizava-se a Procissão da Senhora de Fátima na terra. D. Maria Gostava dos Prazeres e Morais precisava de velas para a família levar na procissão. Pediu aos filhos que fossem por elas à venda. Todos torceram a cara menos o Melchior. E lá foi o rapazito. Chegado à tasca, disparou para o taberneiro na sua inocência:
- Senhor Trombudo, tem belas bentas? (Os beirões confundem o B com o V).
Nem me atrevo a citar aqui o rol de asneiras e disparates que o Pancrácio vomitou por aquela bocarra fora... Os amigos leitores adivinhá-los-ão facilmente. O pequeno ficou com as orelhas a arder por mais de um mês!
Atávico pelo emaranhado do palavreado exaltado e truculento, o pobre do Melchior desejava sobretudo que um buraquinho se abrisse para desaparecer.
Perante o ar parado do miúdo, que interpretou como desafio, Pancrácio abriu a portinhola do balcão e preparava-se para vir cá trás com o seu enorme pezão para o estoirar contra o rabiosque do pequeno, não fora um último assomo de coragem que o levou a fugir a duzentos à hora. Com a raiva espumejante que o possuía, o Espanta Cientes teria sido bem capaz de fazer aterrar o garoto no Algarve!!!
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