Acabei de ler a carta de Sua Santidade. Trata-se de uma boa peça de índole pastoral assente numa realista perspectiva sociológica. Não poderia dizer-se que ela arrassara os que tomaram posição crítica contrária se não fosse o segmento textual seguinte: "Fiquei triste pelo facto de inclusive católicos, que no fundo poderiam saber melhor como tudo se desenrola, se sentirem no dever de atacar-me e com uma virulência de lança em riste". Depois, ressalta, por contraste, o elogio justo, embora excessivo, aos irmãos judeus.
Além da justificação doutrinal e do esclarecimento do alcance disciplinar da pena eclesiástica e da sua remissão, a carta revela uma preocupação de solicitude por quem não está em comunhão visível com a Igreja, por quem não a aceita na íntegra (sejam os que negam a doutrina conciliar, sejam os que não vêem mais nada para lá do Concílio) e por quem, por razões de egoísmo ou oportunismo, se torna intolerante em nome da tolerância.
Pena é que o Papa tenha acusado um excessivo toque de melindre pessoal. É que os católicos muitas vezes não sabem mesmo como se processam estas coisas, ou porque ninguém lho ensina ou porque andam distraídos.
Seja como for, a carta dá conta das limitações humanas também na área da Santa Sé: insuficiente atenção às modernas fontes de informação e deficiente explicação de importantes tomadas de decisão.
Grande papa! De rosto humano! De herói desmistificado!
Abílio Carvalho
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