segunda-feira, 19 de maio de 2008

O episódio dos cigarros

O episódio dos cigarros que o primeiro-ministro fumou a bordo do avião para a Venezuela não teria passado de uma coscuvilhice zelosamente empolada pela comunicação social. E de um gesto desculpável, até pela prática habitual em anteriores viagens oficiais. Não teria passado se José Sócrates, com o seu incorrigível estilo de anjo justiceiro e impoluto, não o transformasse num contraproducente facto político.
Primeiro, estragando um louvável pedido de desculpas com a promessa tonta e radical de não voltar a fumar um cigarro. Como os miúdos que, apanhados em falta, prometem este mundo e o outro e nunca mais fazer o mesmo. Depois, não resistindo à tentação de se fazer passar por vítima e tirar dividendos do caso, vindo acusar de dedo em riste os seus adversários de perseguição e «calvinismo moral». Ora, foi ele, o seu Governo e a ASAE que elaboraram, aprovaram e estão a aplicar um das leis antitabaco mais calvinistas e fundamentalistas do espaço europeu. Não tente, agora, virar o filme ao contrário. E passar para os outros os seus erros, os seus pecadilhos e os seus excessos.

Sócrates passa da humildade de quem pede desculpas à arrogância de quem pede meças e contas à velocidade do som. E do 80 para o 8 (ou do 100 para 0, no caso dos cigarros) da noite para o dia.
Agora, o crescimento do PIB em 2008, que ainda há uma semana o Governo se obstinava em manter nuns irrealistas 2,2%, sofreu uma machadada radical de um terço e caiu para 1,5%. Deitando por terra o discurso da retoma da economia, da convergência finalmente conseguida com a União Europeia, do fim dos sacrifícios pedidos aos portugueses nestes três anos.
O que a maioria dos eleitores que irão votar em 2009 sente quotidianamente é o preço da gasolina a aumentar, os bens alimentares a ficarem mais caros, o custo dos transportes a subir, os juros dos empréstimos das casas a disparar. Com um desemprego em níveis altíssimos e a inflação a saltar de 2,1% para 2,6%, não é este, seguramente, o melhor cenário para sonhar com maiorias absolutas.
Sócrates justificar-se-á com a crise internacional e a conjuntura europeia, mas o facto é que a economia portuguesa apresenta de novo o pior resultado de toda a Zona Euro. Desculpas de mau fumador.
jal@sol.pt, in Sol

3 comentários:

  1. «O petróleo aumenta,e tudo aumenta.
    Aumenta o gásoleo e a gasolina e a seguir os transportes públicos.A seguir hà-de ser os alimentos outra vez,pois o transporte para os mesmos tambem tem de ser pagos.
    Não se pode andar de carro, pois fica carissimo, e não se pode andar de transporte pùblico porque idem.Anda o Português a trabalhar très meses para os impostos, dá vontade de mandar o Estado e essa turma ir trabalhar.Os Portugueses têm de se revoltar contra estas situações , não pode ser pagar e calar.Muita paz. Armando Gouveia.

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  2. Tens razão, Armando. Isto está péssimo. AS pessoas não têm emprego, não têm segurança no emprego, não têm esperança. Enquanto alguns flutuam no melhor dos mundos. Somos um povo do 3º mundo!
    Temos direito a fazer ouvir a nossa voz. Chega de comer e calar.
    Democracia é também isto!
    Abraço amigo

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  3. Concordo com vocês.
    Quanto ao episódio do cigarro, alem de o pedido de desculpas ser de uma hipocrisia sem tamanho...foi o facto de o "nosso" primeiro, vir a publico dizer que não sabia que estava a infringir a lei. Hó Sr. primeiro ministro!!!Por favor...sei que é engereiro(?)...mas a lei foi aprovada pelo seu governo e caso não saiba o desconhecimento da mesma não é nem pode ser invocada/arguida como forma de desculpabilização.Mas sinceramente...é o cumulo. Só neste país.
    Se fosse um humilde Português teria de pagar a multa.
    Arlete Ribeiro

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