Exteriormente transmitia a ideia de um autoritarismo vexante em relação à esposa. Chegava a ser grosseiro mesmo. Na vida familiar intra-muros, era contudo dialogante e, no fundo, deixava que fosse ela a conduzir as rédeas do governo da casa. Em relação aos filhos, procedia mais como um irmão do que como um pai. Havia até alguma cumplicidade entre eles em relação ao poder da mãe.
Homem de negócios, andava pelo mundo a governar (às vezes a desgovernar) a vida, pois era "borguista militante", como ele própria se ufanava.
De um dos seus desatinos resultou uma gravidez. A mãe da criança rejeita-a e entrega-a ao pai que a trouxe para casa. Estão a imaginar a reacção da esposa. Revolta, protestos, ameaças, lágrimas, desabafos. Mas não abandonou o lar nem pediu o divórcio. Embora profundamente magoada como esposa fiel e digna, pensou nos filhos... Mesmo sofrendo, perdoou-lhe e deu-lhe uma chance de recomeçar. Criou a menina como se fosse sua filha.
O marido aprendeu a lição e nunca mais a esposa teve razão de queixa. Mudou imenso. O autoristaismo público e vexante desapareceu. Pouco a pouco foi-se tornando um marido carinhoso e começou a aprender a ser pai.
A miúda cresceu, sem nunca ter dado preocupações a quem a criou. Era de uma imensa delicadeza para com a senhora a quem chamava mãe. Óptima aluna, tirou um curso superior, casou e foi viver para longe. Mas não havia semana em que não telefonasse várias vezes àquela que fora para ela a "mãe".
Após o falecimento do pai, fez aquilo que os os irmãos não fizeram. Veio buscar a "mãe" para sua casa onde é tratada com todo o desvelo.
Como aquela senhora gosta de referir, há males que vêm por bem: "Que seria de mim sem esta filhota querida!"
Uma historia comovente...
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