sexta-feira, 16 de maio de 2008

Ditosa loucura

Muitos conhecem testemunhos de pessoas que se fazem frades ou freiras, quando têm um curso superior ou uma boa carreira profissional.
Outros deixam os seus cursos superiores e começam a estudar para serem padres ou missionários.
«Será desilusão de amor? Aborrecimento do mundo? Ou loucura?»

Há dias fez a sua solene profissão religiosa no Convento de Monte Real – diocese de Leiria – uma destas "loucas" aos olhos dos homens. Ouçamos como ela conta a sua decisão:

«Chamo-me Ana Maria e preparo-me para professar os Votos Solenes Perpétuos segundo a Regra de Santa Clara. Neste ponto alto da minha vida não posso deixar de rever o passado e sorrir com o engano de tantas afirmações e de tantas certezas que, dum momento para o outro, caem por terra. Entre todas, a primeira e a mais forte: "Clausura? Que ideia mais absurda! Não me cabe na cabeça! Não, comigo nunca!!!"
Era professora, terminara a Licenciatura havia pouco tempo e possuía tudo o que uma jovem pode ambicionar para ser feliz. Tinha o futuro nas mãos, um mundo a explorar e o desafio duma vida aliciante, ali mesmo, à frente dos meus pés. Mas, subitamente, a minha vida mudou: do alto da Cruz, Jesus olhou para mim e os meus olhos perderam-se naquele olhar. Dum momento para o outro, os meus sonhos caíram por terra, a minha vida desfez-se em cinzas, o meu mundo desmoronou-se com suas ‘certezas absolutas’. E, nos escombros arruinados, ficou apenas a sombra luminosa daquele olhar tão penetrante, tão doce, tão magoado e tão profundamente amante!
Nesse momento começou a germinar no meu estreito mundo uma nova história, mais venturosa e incomparavelmente mais bela, uma história de amor e luta, em conquista da verdadeira Felicidade. O que se passou depois disso, não o sei descrever. Só posso afirmar que, a 19 de Março de 2000, às portas de ficar efectiva no ensino, deixei definitivamente o pequeno universo da escola em Santiago do Cacém e atirei-me para o infinito de Deus, no desconcertante Mosteiro de Santa Clara e do Santíssimo Sacramento em Monte Real.
"Loucura", diziam-me, e eu respondia sorrindo-me no coração: "Ditosa loucura nossa, Jesus!»
M.V.P., in O Amigo do Povo

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