Morreu há dias um conhecido advogado – Dr. Fernando Cabral - cristão que impregnava a sua profissão com o espírito do Evangelho de Jesus.Para confirmar, vou evocar um momento de encontro e uma sua resposta admirável.
Eu fiz parte de uma Associação com a função de tesoureiro. Essa Associação possuía um pequeno prédio arrendado a duas pobres mulheres, que ali estavam já ilegalmente, porque o contrato terminara.O presidente da respectiva Associação encarregou-me de ir consultar o referido causídico.
Recebeu-me amavelmente. Ouviu a minha exposição, tomou os seus apontamentos e disse-me: venha cá daqui a três dias, que eu estudarei bem o assunto. Lá apareci, ao fim dos três dias, contrariado porque não concordava com o despejo, e ele responde-me: vocês têm razão. Mas eu quero dizer-lhe que nunca faço o despejo de um pobre.
Concordei com ele e disse-lhe que antes de o procurar tinha um sentimento igual.
Se todos tivessem como ele um apurado sentido de justiça, não haveria na nossa terra tanta gente a viver indignamente em barracas imundas.Se os políticos se deixassem iluminar e actuar pelo espírito de Cristo, muito sofrimento não cairia sobre a vida de tanta gente pobre ou miserável, que nasce, cresce, envelhece e morre sem provar um pingo de felicidade.A lição daquele advogado, que também foi político como autarca, deve tocar no coração de muitos outros companheiros: não colaborar no despejo de quem nada tem na vida, antes que a autoridade competente disponibilize uma habitação, mesmo humilde, mas condigna, para gotejar um tudo nada de felicidade em quem nunca a provou.
Mário Salgueirinho
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