segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Padres"porreiros", padres "chatos", padres "legalistas"...

Frequentava eu o Seminário Menor. A casa estava cheia, pois só no meu ano andávamos 56 pequenos.
Um pároco ia frequentemente ao Seminário, todo imerso na sua sotaina preta como então era uso. Tenha esse sacerdote um paroquiano seu no Seminário, rapaz crescidote, pois entrara já adolescente, ao contrário da esmagadora mairia que ali chegava pelos 10 anos.
Denotando grande àvontade com o seu pároco, esse rapaz saudava-o efusivamente e, dando-lhe palmadinhas nas costas, ia acrescentando como um refrão: "O senhor abade é porreiro!" O sorriso do abade era para mim enigmático. Será que gostava do "elogio" do rapaz e ficava "todo babado"? Ou seria um sorriso de compreensão diante da necessidade adolescente de exibição?
O que é certo é que, entre nós, a frase ficou e a fomos usando, pelos anos fora, nas nossas brincadeiras...

Para muitos cristãos de hoje, o importante é que o pároco seja "porreiro"! Não chateie, mantenha as tradições, se fiqe pelo ram-ram, não lance ideias nem projectos, não desinquiete, alinhe numas "borgas", conte umas histórias... Sobretudo que nunca contrarie, que diga sim a tudo e a todos.
Um padre é "chato" se exige, se procura catequizar e formar, se é incómodo, se acha que a Igreja é para todos mas não é para tudo, se não realiza os interessezinhos e manias das pessoas, se procura construir comunidade e puxa por ela, se pretende que Cristo seja o centro da família paroquial, se procura mais o Evangelho do que as tradiçõezinhas, se está atento à orientação da Igreja...
Padre "legalista"será aquele que se preocupa mais com o direito canónico do que com o Evangelho, para quem o homem foi feito para o sábado e não o sábado para o homem. A cada situação humana, responde apenas e só com leis e preceitos. São o seu castelo e a sua segurança.

Confesso que a preocupação de cada sacerdote deveria ser apenas sê-lo de acordo com o Coração de Deus.

Não me diz nada o "padre legalista", servo e servidor de leis. É que se Cristo nos libertou, foi para sermos realmente livres.
Não me diz nada o padre "porreiro". Nenhum sacerdote existe para se servir ou anunciar a si mesmo, mas apenas e só por causa de Cristo. Cada cristão - o padre é um cristão - é um correio da Mensagem mais excelente, da única que vale a pena, a do Evangelho. O porreirismo é anti-Evangelho, é negação de tudo.
O padre "chato" é talvez necessário, embora não seja fácil, pois a cruz pesa. Mas Cristo avisou que o discípulo não era superior ao Mestre. Se a Ele o perseguiram, também o discípulo sofreria perseguições.
A missão sacerdotal só se compreende dentro de uma dinâmica eclesial. Com a Igreja, na Igreja, pela Igreja! Quanto mair for a alegria desta comunhão eclesial, maior será a alegria no serviço sacerdotal.
O sacerdote é o arauto de Deus. Para falar de muitas outras coisas, poderá haver pessoas que o façam melhor. Deus é o seu habitat natural. N'Ele deve mergulhar cada vez mais para O anunciar ao homem para o levar aos outros com renovada alegria.
O padre do nosso tempo jamais pode ser o "faz tudo". Tem que deixar campo ao leigos para que estes se empenhem naquilo que lhes és específico. Ele é o homem da comunhão, que ajuda a suscitar ministérios e serviços, os apoia e os ajuda a reverter a favor da edificação do Corpo Místico de Cristo.
O sacerdote é chamado a ser profeta, sabendo que nunca se deve anunciar a si mesmo. O profeta anuncia, denuncia e compromete-se.
Anuncia quem? Jesus Cristo e o Seu Evangelho. A verdade de Deus.
Denuncia o quê? Tudo aquilo que se opõe ao projecto libertador de Deus sobre a vida e as pessoas.
Compromete-se. Procura viver o que anuncia. Isto de "bem prega frei Tomás; olhai para o que ele diz, mas não olheis para o que ele faz", é charlatanismo.
Firmeza na verdade anunciada, fidelidade aos valores evangélicos, alegria na comunhão eclesial. Mas misericórdia, compreensão, humanidade, caridade em relação às falhas, defeitos e quedas dos irmãos. "Se misericordiosos como o Pai do Céu é misericordioso."
E se os leigos cumprissem mais generosamente a sua missão? E se olhassem menos o seu pároco como o "executivo" que realiza certas tarefas? E se os leigos exigissem que o seu pároco lhes falasse mais de Deus, lhes desse mais formação, rezasse mais com eles? E se os leigos vissem mais a humanidade do seu pároco e o acarinhassem com um membro da sua família, que realmente é? Não teríamos melhores sacerdotes, mais realizados e menos solitários?
"É PRECISO MUDAR!" - disse o Papa.

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