Há tempos, um pároco de uma grande paróquia do litoral dizia que, durante alguns anos, na Quaresma, se realizou na sua comunidade a Celebração da Penitência com absolvição colectiva. Claro que estavam presentes alguns sacerdotes para aquelas pessoas que pretendessem a confissão individual. A Celebração da Penitência ocorria à noite para que todas as pessoas que quisessem pudessem participar. A Igreja enchia e os crentes viviam com entusiasmo a Celebração.
O Bispo daquela diocese, seguindo as orientações da Santa Sé, proibiu a absolvição colectiva. Voltou-se à confissão auricular. O pároco procura explicar, reune o Conselho Pastoral, estuda-se a melhor maneira de, na comunhão da Igreja, ajudar as pessoas. Só que agora, apesar de todos os esforços, aparece um número reduzidíssimo de crentes a abeirar-se do Sacramento da Confissão.
Vários são os desafios pastorais que hoje se colocam à Igreja (a todos os baptizados) no tocante à Confissão.
1. Nota-se que tem descrescido muito o número de cristãos que, nas paróquias, se abeira do Sacramento da Reconciliação, mormente durante o tempo quaresmal.
2. Por outro lado, não pára de aumentar o número de pessoas que se confessa em alguns santuários (Fátima, por exemplo).
3. No contexto do tempo actual, marcadíssimo pelo relativismo moral e por crescente materialismo, vai-se perdendo a noção de pecado e a consequente necessidade do grande Sacramento do perdão de Deus.
4. Algumas reminiscências do passado, focando demasiado o carácter de "tribunal" do confessionário, com imagens a representar o diabo em forma agressiva, com perguntas abusivas e espiolhantes dos confessores, criam nas pessoas do nosso tempo anti-corpos e afastam.
5. A catequese (muito frágil ou enexistente em grande parte das famílias) não proporciona a descoberta do Amor Misericordioso do Pai nem desperta para o afinar da sensibilidade da consciência.
6. Muitos cristãos confudem Confissão com Direcção Espiritual. Pensam que se não falarem muito, tirarem todas as dúvidas... já não se confessam bem. Ora o importante na Confissão é o reconhecimento do pecado e arrependimento que nos levam a confessar os nossos pecados, nos abrem ao perdão de Deus e se concretizam no propósito de emenda. Para a direcção espiritual há outros momentos. Então não podem coexistir as duas? Claro. Só que nem sempre é possível nem é indispensável.
7. O importante para o crente arrependido é aquele momento em que o confessor, em nome de Cristo e em nome da Igreja, realiza o gesto e as palavras sacramentais: "Eu te absolvo dos teus pecados..." Se quero falar, preciso de orientação, de partilhar... então recorro à direcção espiritual. Procuro o sacerdote e combino com ele.
8. Temos que repensar o modo de celebrar o Sacramento da Reconciliação. Isto de confissões de afogadilho, com filas para o confessor não me parece cativante, nem para o penitente nem para o confessor. Este sacramento precisa de enquadramento anterior, de tempo para a confissão e de ambiente consequente. Celebrações penitenciais para crianças, jovens, casais, idosos? Celebrações penitenciais em horas diferentes para acolher o corre-corre da vida moderna?
9. Na confissão, há que ter em conta a sensibilidade e o ritmo de caminhada de cada pessoa. Também quanto ao local da sua realização. Pessoalmente não gosto dos "caixotes com redinha" (confessionários). Sinto-me preso e falta pessoalidade à confissão. Mas também não era capaz de confessar ou de me confessar numa discoteca. Tudo tem o seu lugar. A confissão merece dignidade.
10. O importante mesmo é que cada um reconheça o Amor bondoso do Pai e dele ser abeire com "espírito humilde e contrito".
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