sábado, 23 de fevereiro de 2008

ATORMENTADOS PELA SEDE

O povo israelita, atormentado pela sede,começou a altercar com Moisés, dizendo: «Porque nos tiraste do Egipto? Para nos deixares morrer à sede, a nós, aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?»
Então Moisés clamou ao Senhor, dizendo: «Que hei de fazer a este povo? Pouco falta para me apedrejarem».
O Senhor respondeu a Moisés: «Passa para a frente do povoe leva contigo alguns anciãos de Israel.Toma na mão a vara com que fustigaste o rio e põe-te a caminho.Eu estarei diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Baterás no rochedo e dele sairá água; então o povo poderá beber».
Moisés assim fez à vista dos anciãos de Israel. E chamou àquele lugar Massa e Meriba, por causa da altercação dos filhos de Israel e por terem tentado o Senhor, ao dizerem: «O Senhor está ou não no meio de nós?»
Ex 17,3-7

Entre a seca severa e o dilúvio das inundações, a guerra da água veio para ficar.
O protesto do povo de Israel, atormentado pela sede, no deserto, é uma espécie de aviso antecipado desta “guerra da água” que hoje já se vê e adivinha por toda a Terra. Como não havemos de nos sentir inquietos, ao ver o deserto avançar e abranger terras, que ainda ontem eram prósperas e férteis?! Preocupa-nos, profundamente, ver povos inteiros, milhões de seres humanos, reduzidos à indigência, a padecer a fome e a ser atingidos por doenças, porque privados de água potável. Sabemos bem que 85% das doenças humanas, nos países pobres, estão relacionadas com a quantidade ou qualidade insuficientes da água. Lá onde as chuvas são raras e onde as nascentes de água secam, a vida torna-se mais frágil e diminui até desaparecer.

TANTO POÇO VAZIO!
O drama maior não é o da sede da terra. É o da sede apagada nos nossos corações: sede de vida eterna, sede de Deus, sede do amor divino! Vejo, por aí, apagar essa sede, no consumo plastificado, no prazer irresponsável, na distracção permanente, na procura da bruxaria ou na obsessão da sorte e da lotaria. São corações, que se assemelham a poços entulhados, até à boca, cheios de tudo mas, lá no fundo, secos e sem água da nascente. Poços onde se afogam misérias, mas donde não brota a torrente da vida verdadeira.
Que sede há no coração de um povo, que não procura momentos de meditação, reflexão e oração, e aos quais acorre uma meia dúzia de pessoas? Que sede há no coração de uma comunidade cristã, que foge assim das fontes da Palavra e do silêncio, como o diabo da Cruz? Que alimento saciará a fome de uma família paroquial, que despreza, de maneira gritante, a Eucaristia da semana, onde é servido, em abundância, o pão fresco da Palavra de cada dia? Que alimento procurarão os discípulos, nas nossas cidades, vilas e alfrias, quando se vê tão pálido o rosto das paróquias, que parecem enfastiadas, até com a Missa Dominical?!

E que dizer, deste “poço” do encontro, que é a “Confissão”, feita de diálogo pessoal e de colóquio penitencial, onde se pode fazer transbordar do poço da misérias as lágrimas da penitência e da alegria? Que é feito deste “poço abandonado”, onde Jesus, mesmo se cansado, está sempre pronto a revelar o seu imenso amor por nós?! Quantos não são os que desprezam o sacramento da Reconciliação, com medo de partir o cântaro e deixar a asa do passado? O confessionário, gratuito, está vazio, mas os consultórios, de psiquiatras e astrólogos, bem pagos, têm fila à porta!

1 comentário:

  1. E é tão reconfortante e libertador ouvir "Eu te absolvo"...Parece banal, mas não é...

    Beijinho sereno

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