terça-feira, 20 de novembro de 2007

Mudarmo-nos ou mudar?

"É preciso mudar!" - disse o Papa aos Bispos Portugueses e a toda a Igreja que está em Portugal.

Mas será mesmo que nós queremos mudar? Leigos, diáconos, religiosos, padres, bispos querem mesmo mudar? Ou melhor, querem mudar-se?
Entendo que é pela"conversão do coração" que mudamos a vida. Ou então a mudança ficará pela moda...

Alguns tópicos que, no meu modestíssimo entender, será bom ter em conta se queremos a tal propalada mudança:

1. A absoluta centralidade de Cristo na vida de cada cristão e de toda a Igreja.
2. Uma Igreja que foge da tentação de se auto-anunciar, porque se sente enviada, mensageira d'Aquele que actua no mundo e o quer salvar.
3. A vitalidade da oração na vida de cada pessoa e da comunidade. Aprender a rezar é preciso. Sem oração somos como canos desligados do depósito.
4. Na comunhão da Igreja, há que dar lugar aos leigos. O que lhe pertence! Mas é preciso também que o padre descubra o âmbito da sua missão e o abrace. Nem leigos "a fazer de padres", nem padres a ocupar o espaço dos leigos.
Vejamos: por que razão hão-de os padres dirigir jornais, tipografias, a economia da diocese, a burocracia das chancelarias eclesiásticas, escolas, centros de dia, obras paroquiais ou diocesanas, etc? Não será esse um campo em que é preciso mesmo mudar? Esse é, claramente, um espaço de trabalho laical.
5. Os cristãos portugueses estão mal preparados, vivem agarrados a uma religiosidade popular mal fundamentada e pouco esclarecida. Uma religiosidade de santos, procissões, velas, peregrinações, baptismos, casamentos e funerais... Onde fica Cristo no meio de tanta cera e da tanto paganismo religioso?
6. "Em Portugal baptiza-se quase tudo à nascença, aos oito anos faz-se a primeira comunhão e aos 15 despacha-se o crisma - como se fosse possível aos sete alguém compreender a profundidade da eucaristia e aos 15 estar em condições de afirmar a maturidade da sua fé. Esta juvenília religiosa é boa para se chegar aos noventa e tal por cento de católicos em Portugal, mas leva a que aos 15 esteja feita a licenciatura cristã e que aos 18 já só haja jovens no coro."
7. Baptizar em criança hoje? Para quê? Para termos os livros de baptismos cheios, alimentarmos "feiras de vaidades sociais" de pais e padrinhos, continuarmos a alimentar a neblina do medo de Deus (se morre não vai para o Céu...)e a sombra dos preconceitos ... Colocar o pároco a gerir situações complicadas em que implicam a realidade social hodierna e as leis e leizinhas da Igreja...
Crismar aos 14-16 anos parece-me ser um disparate pegado. Então é na adolescência, quando a pessoa está mais fechada sobre si mesma, que queremos que ela assume um compromisso com a Igreja??? Como é possível?
8. A fundamentalidade da caridade. Em muitas paróquias, vai havendo a missa ao domingo, algumas devoções populares, catequese, outras actividades juvenis, mas a marca da caridade, pelo menos organizadamente, está ausente.
Falta a "fantasia da caridade", profecia, serviço e alegria.
9. Penso que um dos traços da religiosidade dos portugueses é um arreigado individualismo, que os leva a procurar na fé mais um "consolo de alma" ou satisfação de necessidades individuais do que um compromisso comunitário e social. Daí o escândalo de se dizerem católicos e desprezarem a Eucaristia.( Muitas vezes, peço a Deus: "Senhor, ajuda-me a compreender como é possível alguém poder dizer em verdade que é católico e não sentir necessidade da Eucaristia!")
10. Urge que "esse gigante adormecido", que é o laicado, desperte. Estou convencido que, no dia em que os leigos - que são a maioria esmagadora na Igreja- despertarem, esta Igreja terá outro rosto, outra vida, outra juventude.
Chegou a vossa hora, senhores leigos! Finalmente. Então não fiquem aí parados, nem escondam "o talento no lenço"! Assumam-se!

2 comentários:

  1. Olá! :)
    Tantos e tão delicados assuntos em que toca!!E há alguns que me deixam a pensar, porque,embora tenha a minha opinião, que não quer dizer que seja a correcta,oiço tantos pontos de vista que fico um pouco baralhada.No ponto 4, refere que os sacerdotes não têm de estar em tudo!Concordo, não pode cair tudo sob a sua responsabilidade!Mas há algumas situações que não "aceito" muito bem a sua ausência!Por exemplo,não gosto de ir ao mês de Maria quando não está o sacerdote; não gosto de viver uma Via-Sacra sem o sacerdote!A muito custo já assumi algumas vezes a tarefa de as concretizar, mas não gosto mesmo.Sabe, sinto falta da "presença", de uma presença diferente!Eu sei que pode ser uma visão redutora da minha parte, mas não sei vive-las de outra forma.

    Porque não baptizar as crianças em pequenas? É a transmissão de uma cultura, de uma identidade, a de cristãos, que está em causa! Sim, os bébés não pedem, nem têm consciência disso, mas também não pedem que lhes ensinemos a falar, a andar! Se os ensinamos a viver fisicamente, por que não fazê-lo espiritualmente também? O problema não está no baptismo em pequenos, está na educação e no exemplo que se dão no crescimento.E aí sim, reprovo totalmente a inconsciência dos educadores, todos,por, de facto, as vaidades sociais ressaltarem acima de tudo!

    E depois a Eucaristia...É realmente penoso que as pessoas não saibam ver nela a origem e a meta de todo o caminho...Mas sabe, há umas semanas atrás, em discussão no grupo de jovens, alguém dizia que era de feitio difícil e impulsivo, que sabia agir mal por vezes por causa disso, mas que não conseguia ser de outra forma!Entretanto, começou a falar-se em mudar ou não de personalidade dentro e por causa do grupo.Dei a seguinte resposta: ninguém está aqui para mudar ninguém, as personalidades não se mudam, trabalham-se!Só reflecti nela depois de a ter dito....O que falta não é tanto a mudança, mas o trabalho!A partir daí, é deixar nas mãos de Deus....

    Não me leve a mal este testamento, nem julgue que o contradigo nalgumas coisas por arrogância, mas, de facto, há coisas que me deixam a pensar e gosto de partilhar para não fazer da minha opinião, nem uma inconstância, nem uma estátua!

    Obrigada por me ler...
    Abraço sereno
    Ana Patrícia

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  2. Mais uma vez lhe agradeço profundamente a sua reflexão, feita partilha.
    Pedro e Paulo divergiram publicamente, conforme o podemos confirmar nos Actos dos Apóstolos. Nem por isso, antes pelo contrário, as unidade da comunidade foi posta em causa.
    Une-nos o amor profundo a Cristo, fundamento e força do nosso agir em Igreja. Une-nos a preocupação poela felicidade das pessoas, que só Cristo pode dar.
    As divergências enriquecem a unidade.
    1. Preocupa-me há muito tempo a menoridade dos leigos na Igreja. É que quem nos torna Igreja é a Fé em Cristo e o facto de termos sido n'Ele baptizados. Todo o baptizado é um enviado.
    Muitas vezes são os leigos que não querem, por este motivo ou aquele, assumir a sua missão na Igreja; outras, são os padres que, eivados de clericalismo, não dão aos leigos o espaço que lhes pertence.
    Eu continuo a sonhar e a pedir a Deus o dom da chegada do tempo em que os leigos, esmagadora maioria na Igreja, assumam em plenitude a sua missão. Não tenho dúvidas, será uma Igreja muito mais sinal e presença de Cristo.

    2. Há comunidades onde uma percentagem louca de pais que pedem o baptismo apenas vão à Igreja nessa data. Apesar de todas as reuniões preparatórias...
    Ãs crianças continuam a chegar "in albis" à catequese paroquial...Acha que no tempo em que vivemos se justifica continuar a baptizar em pequeno? Penso que não.Só aumentamos a mentira institucionalizada...
    Vamos pegar no catecumenato a sério. Penso que, neste aspecto, a experiência do passado é profecia.

    Com os mais respeitosos cumprimentos no Deus da Paz.

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