segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Polémico, frontal, decidido, claro!

Numa entrevista à rádio Antena Um, e reproduzida no Jornal de Notícias , D. Januário Torgal Ferreira reconheceu que a Igreja em Portugal "é totalmente conservadora", reafirmando a sua concordância com o Papa de "que isto tem de dar uma volta".

Frontal, como é seu apanágio, o prelado questionou essa "mentalidade": "Por que é que não se fala do desemprego, da violência contra as mulheres, das purgas contra as crianças, da pouca vergonha instalada na Justiça?".
D. Januário Torgal Ferreira acha que a "democracia portuguesa está doente" e lamenta que a Igreja não diga "isto". "Não diz! Está a ver a mentalidade triste, num apagado e triste país"", comentou.
Todavia, o bispo das Forças Armadas defende que "em muitas coisas" também "o Papa deve dar uma volta", a começar por "escutar mais" os bispos portugueses. "Não deveria haver o centralismo. Deveria haver muito mais uma comunhão. Devia mudar a apresentação", sustentou.
No início deste mês, em Roma, o Papa Bento XVI apelou a um maior diálogo da Igreja portuguesa com a sociedade, recomendou aos bispos um novo estilo de organização da Igreja em Portugal e defendeu a necessidade de mudar a maneira como ela fala de Deus.
Questionado se o dinheiro gasto na construção da nova Basílica de Fátima podia ter sido empregue noutra coisa, o prelado afirma que há obras "mais necessárias" que privilegiariam crianças ou idosos e acrescentou: "Aquilo que eu acho que faz falta em Portugal, a partir da Igreja, é humanidade".
Na entrevista, o bispo das Forças Armadas não se eximiu a abordar o recurso a métodos artificiais para controlar a reprodução, incluindo o preservativo, defendidos no Concílio Vaticano II, lamentando que eles não tenham sido aceites pelo Papa Paulo VI.
Para o bispo que decidiu ser padre aos 7 anos e viveu o Maio de 68 em França quando estudava Filosofia com Paul Ricoeur, o recurso a esses métodos não é pecado, antes um "instrumento de defesa", um "elemento promotor da vida", uma "forma civilizada e inteligente de proceder".
No final de entrevista, o bispo das Forças Armadas reconheceu que a Igreja em Portugal "foi conivente" com o regime de Salazar mas também acredita com entusiasmo e humildade que a Igreja pode dar "a volta" que o Papa pediu: "Temos pernas para andar".
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/RjBy1h9Y9fxz9%2FkZLwvKyQ.html

Nota de Asas da Montanha: Ai D. Januário, D. Januário! Por onde o senhor se andou a meter! Olhe que fariseus, escrivas e doutores da lei continuam a andar por aí! Prepare-se.
Da minha parte, um aleluia sentido, agradecido. Já tinha saudades desta linguagem fresca, serena, com sabor a boa nova. De Deus. Sobre o homem.
Diga aos leigos, padres e bispos que é preciso falar claro. Sem medos. "É preciso mudar!", disse o Papa. Deitemos fora a veste bolorenta do "politicamente correcto" e vistamos a veste da frontalidade.

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