quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Dai-lhes vós de comer

Chegou-me às mãos esta composição “em jeito de oração” de Alberto Andrade.
Tem um conteúdo tão actual e tão belo que não posso deixar de a oferecer aos meus queridos leitores:
Senhor:
Tal como há dois mil anos
As multidões procuram-Te, famintas.
Também hoje as queremos despedir –Não pertencem ao nosso grupo,
Não têm a nossa cor,
Não pensam como nós.
Chamamos-lhe nomes:
São homossexuais,
São recasados,
Não alinham pela ortodoxia,
Não se revêem
Na frieza desta Igreja...
Também, hoje,
Nos convocas:“Dai-lhes vós de comer.”
Mas nós, Que já perdemos
O sabor do maná,
Dizemo-nos de mãos vazias,
E vamos arranjando desculpas
Para não Te acolhermos
Em tantos irmãos famintos.

Começa o autor a comparar as multidões famintas que procuravam Jesus às multidões do nosso tempo famintas de tudo: – pão, alegria, saúde, trabalho, felicidade...
E quanta gente – quantos cristãos católicos – despedem de mãos vazias, de estômago vazio, alguns abandonados, alguns rejeitados, porque não pertencem ao grupo da sua fé ou porque destoam da sua comunidade.
Outra gente sofre e chora porque encontra muita frieza em muitos membros da Igreja.
Foi também para nós aquela palavra de Jesus, perante aquela multidão que se abeirava Dele com esperança: “Dai-lhes vós de comer.”

Mário Salgueirinho

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