segunda-feira, 31 de maio de 2010

A casa, as gatas e o namorado

Ontem à tarde, acompanhado de uma pessoa amiga (isto de não gostar de conduzir tem as suas limitações), dirigi-me à sede do distrito, pois precisava muito de fazer uma compra.
Depois de várias voltas por aquele espaço comercial e depois de comparar preços e qualidade, decidi-me.
Enquanto a menina que nos atendia cuidava de embrulhos e quejandos, e uma vez que estava à espera da intervenção de um colega seu, necessária para o processamento, deu para uma conversa interessante.
Acrescento que a funcionária em causa, além de competente, era simpatiquíssima. Qualidade nem sempre verificável em estabelecimentos comerciais ou em repartições públicas...
Não me lembro do motivo, mas o que é certo é que a conversa fui parar aos gatos. Fui dizendo que não gosto de gatos, embora não lhes faça mal. É que a jovem falava com encanto das duas gatas que tinha em casa, pormenorizando gestos, reacções e posturas dos animais.
Contou-nos que o seu namorado lhe havia garantido que sairia de casa se ela teimasse em trazer um desses bichos para casa. Contra tudo, trouxe mesmo. E qual não foi o seu espanto quando verificou que o namorado, não só não saiu, como até começou a gostar de acarinhar e de tratar das gatitas.

A história em si é vulgaríssima como vêem. Só que me fez pensar durante a viagem e pela noite fora.
A sociedade está a mudar a um velocidade louca. A naturalidade com que aquela simpática jovem falava do facto de viver com o namorado na mesma casa! E teve o cuidado de referir várias vezes: "meu namorado". Há trinta anos atrás nenhuma rapariga, por estas zonas, se atrevia a falar claramente. A sociedade não permitia facilmente que duas pessoas vivessem juntas sem estarem casadas. A própria formação e convicções pessoais não favoreciam esta opção, hoje corriqueira.
Ainda no Verão passado, um casal de fortes convicções de fé, me contava com a mesma naturalidade que haviam ido acampar com o filho e filha, solteiros, ambos na casa dos vinte anos. Que levaram três tendas, uma para eles, outra para o filho e sua namorada, outra para a filha e seu namorado.

Eu digo para os meus botões: "Os meus jovens têm razão como me chamam 'kota', porque me custam a engolir estas situações". Mas serei eu que estou totalmente errado? Será que a moral católica é assim tão obsoleta? Ou será que no sexo vale tudo hoje? E não será exactamente "porque no sexo vale tudo" que os casamentos se fazem e desfazem quase à velocidade da luz?
Onde estão os valores? Onde estão a continência e o auto-domínio? Será que o sexto e nono mandamentos já foram arrancados ao decálogo sem eu me aperceber? Será que palavras como "pureza" e "castidade" existem só para as pessoas se rirem e gozarem com elas? E não será que se riem e gozam com estas duas palavras como forma inferior de as encararem? É que já a raposa caçoava das uvas penduradas na ramada a que não chegava: "Estão verdes, não prestam!"

4 comentários:

  1. Acho que este post é muito pertinente nos dias de hoje...mas considero também que se estão a misturar alhos com bogalhos...
    Concordo que em determinados aspectos a moral católica pode ser obsoleta, mas noutros é mesmo a sociedade que é irracional.
    Quanto à situação em si, leia-se que a menina em causa falou em viver com o namorado...Apesar ne não estarem casados não poderá ser uma opção feliz? Para isso basta que o amor seja verdadeiro...se assim for tenho a ceteza que Cristo estará feliz... O grande problema no meio disto tudo é a banalidade com que se trata o amor...na maioria das vezes não passa mesmo de sexo, e aí sim concordo que são estranhos os exemplos que deu... Mas e se o amor for verdadeiro??? E se aquele casalito jovem e com dois gatos for mesmo uma manifestação do verdadeiro amor, na plenitude deste sentimento?.
    Assim sendo diria, nem oito nem oitenta... O importante é mesmo o respeito pelo amor...e claro que o amor apela à responsabilidade, à capacidade de decisão, à racionalidade...e tudo isto aponta para os valores adquiridos na famíla...
    Enfim, somos uma construção alicerçada na família...

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  2. Caro Fábio:
    Obrigado pela tua presença e pela partilha amiga.
    Não estranharás certamente que discorde de ti nalguns pontos, enquanto noutros sintonizo contigo completamente.

    "Quanto à situação em si, leia-se que a menina em causa falou em viver com o namorado...Apesar ne não estarem casados não poderá ser uma opção feliz? Para isso basta que o amor seja verdadeiro...se assim for tenho a ceteza que Cristo estará feliz..."

    1. Onde houver caridade e amor aí está Deus.
    2. Mas estará um casal que assim vive COM Deus?
    3. Voltamos ao tempo de "um amor e uma cabana"?
    4. Um casal cristão (só para esses tem sentido) pode excluir-se de uma vivência cristã da sexualidade? Ou do Evangelho e da doutrina da Igreja só escolhemos o que nos agrada?
    5. Não somos nós hoje todos desafiados a remar contra a maré do tempo em tantas modas do tempo que se afastam da proposta da Igreja de Jesus Cristo?
    6. Afinal em que nos distinguimos dos que não acreditam?
    7. Eu sei que ninguém vai buscar o amor conjugal à Igreja.Essa não é a essencia do sacramento do Matrimónio. No sacramento do Matrimónio Deus abença e santifica o amor humano já existente. Mas porque não ser casto até ao casamento? Não será essa uma prova de amor radical e incondicional de amor dos conjuges?

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  3. O problema destas questões tem um nome: COMPROMISSO! E não me venham com histórias de que é só um papel, um contrato, isso soa-me nitidamente a desculpa de mau pagador! Quanto à Igreja, penso que o maior obstáculo é o de não conseguir ainda muito bem situar-se contemporaneamente, precisa de um cliquezinho para saber estar junto das pessoas de hoje sem, obviamente, esquecer os seus valores e ensinamentos, para isso é preciso sensibilidade, que é o mais difícil de alcançar! No entanto, neste caso, eu não sei se a Igreja é a questão...a questão é a DIGNIDADE HUMANA!

    Ana Patrícia

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  4. Subscrevo o que a Ana Cristina diz. Mas penso que um matrimónio não pode ter a mesma força de um acasalamento. Se tem algo está mal. Hoje "até parece mal" casar pela Igreja... No outro dia o grande Rui de Carvalho dizia que o segredo estava em viver as 23h30 por dia em que o sexo não está presente. Os bons e os maus momentos!!!

    Eu tb sou kota. E até me orgulho disso.

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