quarta-feira, 16 de maio de 2007

Tem 86 anos. Toca Banjo. É um bom amigo.


Como sempre acontece, também hoje, ao chegar à Capela para celebrar a Eucaristia, o sr. Manuel Gouveia estava à minha espera.
Mal páro o "jerico", já ele se está a sorrir. Logo a seguir aos cumprimentos, lá vem sempre uma das dele. Uma piada, uma pequena provoção, uma achega, uma chalaça... o que lhe ocorrer no momento. Sempre bem disposto, sentindo um enorme prazer em me ver rir.
É uma daquelas pessoas que possui este dom natural. Diz as coisas com uma espontaneidade enorme, sem forçar. E revela um coração lavado, sem malícia, nem brejeirice. A maneira de falar já provoca a boa disposição.

Há tempos, encontrei-o em Sta Helena. Começou com as dele. Entretanto, disse-me que ia à Capela. Pouco tempo depois, já estava ao pé de nós. Perguntei-lhe se se lhe secava a boca a rezar. Respondeu que não, que se pusera em oração, mas a Santa Helena nem para ele olhara. Então pensou que ela queria uma esmolinha. Subiu e colocou no cestinho a dita. Voltou a olhar para ela e nada... "Bem, hoje não tás para me aturar. Então não te chateio mais. Virei noutra altura. E vim embora..."
Num dia de intenso calor, perguntei-lhe se, com aquela idade, não estaria na hora de ir fazer companhia à sua patroa. Abriu muito os braços e disse-me:
- Olhe, vou ao cemitério todos os domingos e levo sempre o aparelho ligado para ouvir bem. Pergunto-lhe se me quer lá. Mas sempre lhe vou dizendo para esperar mais uns tempos. É que teremos a eternidade para namorar. Ela não me responde. Ora quem cala consente. Como vê, não está nada ansiosa por mim... Além disso, já viu ? Com este calor e numa espaçozinho tão pequeno, ia ser suar em bica. E quem me ia lá levar a jarra para me refrescar? O senhor que é um somítico!?..."
Enfim, seria um nunca mais acabar de histórias...
Hoje, apareceu-me com uma preocupação. E falou a sério. Pedia a Deus que o não levasse sem se confessar. Ele que se confessa regularmente e recebe Nosso Senhor sempre na Eucaristia. Disse-me que gosta muito de brincar, mas que queria aparecer junto do Amigo com "as contas em dia."

"Quero cantar, ser alegre// Que a tristeza não faz bem;// Eu nunca via a tristeza// Dar de comer a ninguém."
E o Mestre disse: "Deixo-vos a minha alegria para que em vós a minha alegria seja completa."
Felizes aqueles que possuem o dom de fazer rir, de criar boa disposição e o fazem render em favor de todos. É um dom maravilhoso.
Num mumbo sorumbático, carregado, tristonho, pesado, que parece viver em sexta-feira santa continuadamente, bem-aventurados os "puros de coração" que conseguem transmitir uma aragem de sadia alegria, optimismo, desentorpecimento. Rir é mesmo o melhor remédio.

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