Filho de pai crente e de mãe religiosamente indiferente, o João cresceu nas franjas da Igreja. A influência materna é realmente importantíssima. O rapaz foi baptizado, fez a 1ª comunhão e... ficou por aí... Ao domingo, fazia como a mãe. O Pai ia sozinha à Missa.
Um dia chegou um padre novo à sua paróquia. Sacerdote zeloso, procurou acima de tudo atrair os jovens, aí como em tantos lados, afastados da Igreja. Dotado de imenso jeito para a música, afável e cativante, caiu muito bem junto da gente nova.
Sempre que vinha cá ao norte, o João entusiasmava-se quando falava do novo padre da sua comunidade. Que já ia à Missa, que participava no grupo de jovens, que agora sim, é que era maravilhoso. E contava detalhadamente as muitas actividades em que participava, desenvolvidas pelos jovens da sua terra.
Sempre o entusiasmei, mas sempre lhe referi que não ficasse nas pessoas, por mais brilhantes que pudessem ser. Que caminhasse para Cristo, que fizesse d'Ele o centro do seu viver e agir.
Soavam-lhe a ofensa as minhas palavras. Que o tal padre era espectacular, que nunca o desiludiria, que tal e coisa...
E foi assim durante bastante tempo.
Certo dia, apareceu cabisbaixo, quase nem falava, quase a fugir. Esperei a ocasião adequada e perguntei-lhe o que se passava. Tinha abandonado o grupo, a Igreja. "Nem me fale nesse padre!"
O sacerdote nada fez de mal, o João é que estava apaixonado e pensou que o padre andaria a "arrastar a asa à sua namorada". Tontices que a ciumite provoca num coração jovem...
Com a grande confiança que tinha com ele e com a família, fui duro e curto:
- O que precisavas mesmo era de duas lostras nessa cara! Não te pedi tantas vezes para não ficares nas pessoas, mas seguires para Cristo!?
O João encolheu os ombros e debandou.
A verdade da vida aí está:
- Ou a família cria raizes fundas, alicerça a fé, ou tudo será difícil. Podem surgir fogachos, mas não passam disso... fogachos!
- O povo tem razão quando afirma que "alguns ficam nos santos em vez de irem directamente a Deus."
Aplicando, só Deus não falha, só Deus merece a nossa adesão incondicional, só Deus dá sentido à existência.
Quando nos agarramos apenas às pessoas, estas podem a qualquer momento decepcionar-nos.
Aquela família que conheci em tempos e que tinha tido um problema grave com o pároco da sua paróquia, ia à Missa cada domingo. E quando as pessoas, infelizmente sempre mais disponíveis para fazer crescer muros do que para ajudar a derrubá-los, lhe diziam:
- Ai, se fosse comigo, nunca mais iria a uma Missa celebrada por este padre!
O Casal respondia:
- Mas nós não vamos lá por causa do padre, mas por causa de Cristo. E Esse nunca nos falha!
Desculpem-me, amigos, mas é o que penso. Considero uma verdadeira tonteria, um perfeito disparate aquilo que tantas vezes se ouve a respeito do abandono de alguns por causa dos defeitos dos padres, dos catequistas, dos praticantes. Afinal, qual é o deus dessa gente? Não será antes uma "desculpa de mau pagador"?
Que os padres devem esforçar-se por ser santos, nem duvido. Mas só eles? A vocação à santidade, à perfeição, à conversão de vida não é para todos?
Sim, é para todos (leigos e padres), mas mais, muito mais, para os padres...
ResponderEliminarPorventura, estes não se consagraram "totalmente" ao Senhor?
Não devem dar assim o bom exemplo, sempre, sobretudo eles?
Se o bom exemplo não vem de cima, de onde (normalmente) poderá vir?
Por outro lado, em igualdade de circunstâncias (perante a mesmíssima falta grave), não escandaliza muito mais um clérigo do que um leigo?
A vida religiosa, e sobretudo a sacerdotal, não constitui um dom especialíssimo, um carisma extraordinário, de Deus?
Deus não irá exigir (tal como consta na parábola evangélica dos talentos) muito mais a um leigo religioso do que a um não religioso, muito mais a um presbítero do que a religioso consagrado, muito mais a um bispo do que a um presbítero?
Rezo por todos, principalmente pelo clero e também pelos religiosos que, natural e logicamente, devem fazer, moral e espiritualmente, pelos seus carácter e votos sagrados, mais, muito mais e melhor, do que um simples leigo, salvo raras excepções.
Um cristão amigo.
Bela historia!
ResponderEliminarOs alicerces são muito importante mas na minha opinião nós somos aquilo que fazemos!
Neste caso como os de muitos outros, há maior relevância da auto-afirmação do que origem familiar.
Ahhh isso dos ciumes do pe. acontece muitas vezes porque quando se está apaixonado fica-se cego. Apesar de achar também uma estupidez... percebo a sua insegurança.
Nota: conte-nos mais desta historias
Caros amigos, obriago pela colaboração.
ResponderEliminarO chamamento à santidade, é uma uma vocação universal. E isto é uma proposta essencial de Jesus Cristo. Seja padre, religioso ou leigo. Felizmente que a santidade não é um privilégio só ao alcance de alguns. Felizmente que cada pessoa é um ser muito amado pelo Pai. Felizmente que Deus não faz acepção de pessoas. Se todos somos igualmente baptizados, todos somos igualmente chamados à santidade. Por caminhos diferentes? Certo. Mas a santidade é a meta a atingir por todos, digo, TODOS!
É Deus quem salva. Mas serve-Se de seres em tudo iguais aos seus irmãos. Com virtudes e defeitos, com altos e baixos. Ou não foi assim com os apóstolos??? Não haveria no tempo de Jesus gente mais "santa" do que os apóstolos? Certamente. Mas foi a estes que Jesus escolheu e destinou.
Isto de exigir "mundos e fundos" aos padres e depois desculpar todas as falhas dos outros cristãos, além de não ser humano, não é cristão. Se Jesus pensasse assim, Pedro, após o seu crime, teria sido destituído do seu múnus. E não foi!
Fala-se muito nos votos sacerdotais. Fale-se também no compromisso matrimonial. Aí a FIDELIDADE é ontológica ao Sacramento. Não é um questão disciplinar como a castidade na ordem.
Não se faça do padre aquilo que ele não é: um super-homem. E mais, quanto mais formos exigentes para connosco mesmos, mais tolerantes e compreensíveis seremos para com as fraquezas dos outros.
Muitas vezes o exigir "mundos e fundos aos padres", o estar sempre a "bater no ceguinho" pode ser uma forma de nos desculparmos das nossas faltas, de fugirmos de nós mesmos.
E lembrem sempre, por favor. IGREJA somos TODOS NÓS. Todos os que acreditam em Jesus Cristo e n'Ele foram baptizados.
Não exijamos mundos e fundos aos outros, comecemos por ser exigentes connosco mesmo!
Muita paz n'Aquele que nos liberta.