1. Sei que não parece, mas estamos à porta de mais umas eleições.
Ainda não sabemos quais vão ser os resultados, mas é possível, desde já, identificar o vencedor (ou, neste caso, a vencedora): a abstenção.
Trata-se de uma vitória esperada, compreensível, mas também perigosa.
De facto, a classe política só aparenta estar preocupada com o povo em vésperas de actos eleitorais. Como é que o povo não há-de afastar-se cada vez mais da política se a política se afasta cada vez mais do povo?
Só que, não obstante a legitimidade desta opção (apesar de pouco recomendável, ela está prevista), há um perigo latente.
Hoje, a vida das pessoas decide-se, em grande medida, entre Bruxelas e Estrasburgo. O mais distante é que comanda o mais próximo. É, por isso, muito arriscado deixar que as eleições mais decisivas sejam as menos participadas.
2. É claro que os protagonistas não ajudam. O tema é a Europa, mas o discurso incide, acima de tudo, sobre a política nacional.
Por um lado, é inevitável e até aconselhável. A Europa não passa apenas pelos grandes centros. Ela atravessa também os pequenos núcleos.
Falar de Portugal (do seu povo e dos seus dramas) é também falar da Europa. E, a montante de tudo, uma discussão nunca deve ficar por generalidades.
Ir ao concreto é fundamental, é decisivo, é urgente. O problema é que só se desça à realidade nestas alturas.
Infelizmente, as pessoas ficam com a impressão de que o voto é uma espécie de delegação de soberania a partir da qual os eleitos fazem o que entendem e não o que é preciso.
As eleições, no imaginário dos cidadãos, despontam como a única altura em que os representantes se submetem à vontade dos representados. Logo a seguir, os representados voltam a sujeitar-se às decisões dos seus representantes. Com a agravante de tais decisões estarem, quase sempre, em contradição flagrante com as suas aspirações mais justas.
3. Num tempo em que as ideologias se esbatem, as pessoas estão mais atentas aos comportamentos.
E, aqui, impera uma forte dose de desconfiança. Já poucos acreditam nas promessas que se fazem. Parte-se do princípio de que se promete o que não se faz e que se faz o que não se promete.
Há um défice de seriedade que conduz ao descrédito. Daí a tendência para o nivelamento. Ouve-se dizer, amiúde, que os políticos são todos iguais.
Ora, isto não será bem assim. O discernimento passa por saber separar o trigo do joio. Ainda há muita gente digna, muita gente honesta.
E, depois, há que pensar que, não raramente, o que acontece na classe política é um reflexo do que ocorre nos cidadãos.
Os políticos não serão um modelo de qualidades. Mas será que nós, cidadãos, seremos uma montra de virtudes?
Reconheçamos, além disso, que os defeitos dos políticos estão em permanente escrutínio. Hoje, tudo se sabe: a verdade e, muitas vezes, a mentira. E, entre nós, não é forte a tentação para esconder, para branquear?
Há, sem dúvida, muito que fazer com os outros. Mas não há menos que refazer connosco.
4. Vamos, por isso, aproveitar o tempo que nos resta para apurar um discernimento em ordem a uma opção.
Procuremos ver, daqui até Domingo, quem, de uma forma consistente, se mostra mais empenhado na defesa da vida, na promoção da família e no combate à pobreza.
A regeneração, que tanto desejamos, tem de passar também pela base, por nós. Não consintamos que a política continue a ser vista como um problema deles, tanto mais que ela é, acima de tudo, um problema nosso.
Não podendo fazer tudo, poderemos fazer muito. Desde logo, não ficando em casa no próximo Domingo. Votar é um direito que há-de ser encarado como um dever e assumido como um imperativo.
Estimado leitor, vote no próximo Domingo. Mesmo que lhe custe.
Vote por si. Vote por todos.
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