Sócrates e sondagens derrotados

Ouvi muitas vezes que a esmagadora maioria das sondagens não traduzia o sentir popular. Confesso que nunca foi essa a minha posição. Afinal estava tão enganado como as sondagens.
Ficou célebre aquela frase dita há anos por um dirigente socialista: "Quem se mete com o PS leva"! Hoje podemos inverter a ideia: "O PS meteu-se com Portugal e levou!"
Além da elevadíssima abstenção, também foi significativo número de votos brancos. E estes dois dados têm que ter uma leitura por parte dos políticos e da sociedade.
Claro que as eleições europeias não falam tanto aos portugueses como as legislativas, até porque a Europa é para os cidadãos algo distante, burocrático, com dificuldade de se comunicar com os eleitores. E mesmo nesta campanha falou-se mais de problemas internos do que das questões europeias. Mas até por isso, ninguém de bom senso pode deixar de enxergar um claro "puxão de orelhas" à política do governo.
Quem lida com as pessoas apercebe-se do fortíssimo descontentamento em relação ao governo (o que quererá querer dizer que as sondagens andaram longe dos cidadãos...).
Sócrates reconheceu que a sua derrota foi clara e expressiva. Mas, como se os resultados não o tivessem questionada decididamente, lá foi dizendo naquele seu estilo arrogante, altivo e autista que ia continuar na mesma linha. Que falta de humildade democrática!!!
Preocupa-me o forte crescimento dos partidos de extrema-esquerda. Claro que muitos dos que votaram neles o fizeram como contestação ao governo. Mas preocupa-me por que razão? Pelo que isso pode significar de alinhamento em questões fracturantes, como a vida, o casamento, a família...
O povo soberano falou. Em democracia - o mais belo e todos os regimes conhecidos - o povo é soberano. Falou, está dito.