“Ninguém educa ninguém. Ninguém se educa sozinho. As pessoas educam-se juntas na acção de transformar o mundo”. (Paulo Freire)
Antigamente os pais queriam ver os filhos a trabalhar ainda crianças. O estudo ficava em segundo plano. Os pais de hoje preferem ver os filhos só a estudar, porque trabalhar é assunto para depois da faculdade – se tiver emprego, é claro. Hoje a lei proíbe o trabalho de menores de idade.
Os pais de antigamente achavam que os filhos tinham que crescer logo para se “desenrascar” na vida, que era considerada dura e cheia de desafios. Os pais de hoje gostariam que os filhos não crescessem. Crescer para quê? Para morarem sozinhos, trabalhar, pagar as contas, fazer compras no supermercado, providenciar alguém para lavar a roupa, cozinhar, arrumar a casa! Casados terão filhos...para os avós cuidarem. Teriam mais responsabilidade e preocupação! Casar para quê, se eles podem namorar no shopping, no carro, em casa, até no quarto de dormir. Podem chegar à hora da madrugada que quiserem! Em casa o (a) filho (a) tem comida e roupa lavada, para quê ir a luta? Em casa não precisarão de arrumar o quarto, nem recolocar as coisas no lugar, nem ajudar os pais a descarregar as compras, nem ajudar a mãe na cozinha. Então, por que virar adulto? Para ser responsável e ter que encarar a vida tão perigosa e incerta lá fora?
Os pais de antigamente exerciam ao máximo sua autoridade sobre os filhos. Eram autoritários e reprimiam todos os desejos. Os pais de hoje acovardam-se diante do poder crescente dos filhos. Existem crianças que batem de verdade nos pais e eles não sabem como reagir. Faz sucesso um programa da TV inglesa, “Super Nany” que ensina aos pais como se defender e sustentar regras para lidar com os filhos. Pais acovardados e sem autoridade era impensável, antigamente. Alguns pais de nossa época justificam sua covardia como defesa para o (a) filho(a) não fugir de casa. Os pais de hoje temem a explosão emocional e reacção de vingança dos filhos; também temem serem mal interpretados pelos especialistas e vizinhos de plantão.
Os pais de antigamente comandavam totalmente a educação dos filhos. Hoje os pais sentem-se comandados pelos seus rebentos. Resta a esperança para alguns de que a escola os eduque. Os pais que com esforço retomam a função de “pai” e de “mãe” tendem a sentir culpa, porque dizer um ‘não’ dá a impressão de serem autoritários.
Conversas sobre a sexualidade antigamente não aconteciam. Hoje, muitos pais ainda resistem a conversar sobre sexo; parecem mais preocupados com as drogas e as doenças transmissíveis do que em prevenir o crescimento do número de gravidez precoce entre adolescentes.
Antigamente os jovens entravam em conflito sobre valores sociais, políticos, económicos, religiosos, estéticos e comportamentais. As crianças e os jovens do início do terceiro milénio não vivem um sonho colectivo de mudança social. Seu sonho é meramente subjectivo, tribal e plural. São mais propensos à discussão sobre assuntos menores do quotidiano como os games, amigos, namoro, aparência, do que os “grandes temas” da década de 1970.
Obs: esse “antigamente” refere-se a não mais que trinta, quarenta anos. Ou seja, antigamente não é tão antigamente.
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