Houve um tempo — e não foi pouco — em que a vida parecia sempre a abrir portas.
Mondim da Beira, Salzedas… e nós ali, quatro padres ainda a aprender a ser homens feitos,
a rir de coisas sérias e a discutir coisas pequenas,
Ramos, Matias, Guedes…
Como éramos diferentes — e como encaixávamos bem.
Houve dias de festa, daqueles em que Deus parece descer pela serra abaixo
para se sentar connosco à mesa.
Houve também choques, teimosias, divergências —
mas até isso era amizade.
Era vida a sério.
E hoje, quando penso em cada um deles,
não vejo túmulos.
Vejo rostos.
Risos.
Conversas interrompidas.
E a promessa — tão clara como o ar da manhã —
de que a morte não fechou nada: apenas abriu o Céu.
Porque acredito — e não é frase bonita, é certeza funda —
que os três já estão naquela grande festa de Deus,
onde tudo o que vivemos encontra sentido,
onde tudo o que ficou por dizer já está dito,
onde tudo o que não entendemos já está claro como água.
E eu fico aqui, Carlos, com saudade —
mas uma saudade boa, que não paralisa,
que apenas aquece o coração.
Porque sei que voltaremos a rir juntos,
como nos dias em que corríamos de paróquia em paróquia
cheios de pressa e cheios de vida.
A morte deles não me afasta:
puxa-me para diante, para a tal mesa aberta
onde Deus acolhe os que chegam e espera pelos que ainda caminham.
E um dia — não sei quando —
haverá reencontro.
Sem horários, sem pressas, sem despedidas.
Só festa.
Daquela que começa em Deus
e nunca mais acaba.
Carlos Lopes

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