1. O Contexto: O nosso texto fica entalado entre a parábola do bom samaritano e a Oração do Pai-Nosso. Fica entalado entre a boa acção e a oração, cujo equilíbrio está patente no texto que aqui e agora nos ocupa.
2. Vejamos alguns pormenores:
a) “continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia”: não se diz o nome da aldeia. Sabe-se que Jesus não caminha só. Vai em grupo. Vai a caminho de Jerusalém. Jesus não é como os rabinos, que ensinam, parados, à espera dos ouvintes. Jesus vai ao encontro das pessoas. Enfrenta contextos novos, reacções imprevistas; nós instalamo-nos facilmente. Jesus caminha…
b) “E uma mulher de nome Marta recebeu-O em sua casa”. Ao contrário do que seria de esperar, Jesus não é recebido por um homem, pelo senhor da casa…Sabemos que é recebido por Marta, uma mulher de quem só sabemos o nome e a família. Jesus aceita a hospitalidade de uma Mulher, sem preconceitos. Jesus vai com os Doze, mas dá a impressão que só Ele entra em casa: «recebeu-O» e não «recebeu-os»…
c) “Tinha ela, uma irmã, que sentada, aos pés do Senhor, escutava a sua Palavra”. Jesus anuncia a Boa Nova a uma pessoa. Ocupa-se de um só. Reflecte uma grande liberdade apostólica que não se prende aos números e mantém uma relação familiar.
3. Vejamos agora as personagens:
Maria: é aquela que escuta. Recebe e honra Jesus como Mestre “sentada aos pés do Senhor”. Não fica, de longe ou ao fundo da porta. Está «aos pés». Representa o ideal feminino da escuta, do acolhimento, como Maria de Nazaré.
Marta: É a irmã mais velha. Ralha com a mais nova. É a «dona da casa». Anda aflita, em apuros («perispastos»). Tensa, agitada! Porquê? Será que Jesus ia ali para comer apenas? O que é que ela pensa que Jesus quer? Ser agasalhado? Ou ser escutado! Perde a cabeça…Intromete-se. Perde o controle e acaba por censurar o hóspede: «não te importas»… lembrando as palavras aflitas dos discípulos na tempestade: «não te importas que pereçamos» (Mc.4,38). Ela faz uma tempestade num copo de água… «Diz-lhe que me ajude»…dando a impressão de se ter a si própria como a bondade em pessoa… acusando a irmã de indolência…
Jesus: O queixume de Marta até é razoável. O problema é o descontrole. Ela podia dirigir-se-Lhe de modo diferente. Jesus reage repetindo o nome: “Marta, Marta”, coisa que não se vê em mais lado nenhum no Novo Testamento! Quer dizer: o problema é sério. Mais sério do que parece. «Preocupas-te demasiado». Andas atarefada. É uma ocupação supérflua. «Maria escolheu a melhor parte», como quem tem o prato na mesa e escolhe o melhor bocado. A ela coube-lhe a melhor parte da herança…
Parece-nos ouvir, de novo, o Salmista – cf. Sal.16 (15):
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o meu destino.
O senhor está sempre na minha presença.
Com ele a meu lado, não vacilarei.
In Varanda dos Reis
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