sábado, 12 de junho de 2010

A magia do futebol

Alguns governos dos países em crise têm hoje razões para descomprimir. Começa o Mundial de Futebol e nos próximos 30 dias muito se falará da bola que entrou, do penálti que ficou por assinalar ou do apuramento injusto deste ou daquele país. Aproveitando este estado hipnótico, muitos governos optarão por tomar medidas impopulares, atendendo a que o povo estará distraído com a paixão futebolística – e terá mais vontade de festejar as vitórias do seu país do que de ir para a rua protestar contra as decisões que lhes dificultarão ainda mais a vida no futuro.
Independentemente da política, o Mundial será um acontecimento que ficará na história. Em primeiro lugar porque é jogado em África, continente que nunca tivera tais honras, e porque coincide com uma das maiores crises financeiras dos últimos 50 anos. Alguém imaginaria, por exemplo, no Mundial de 2006, ver políticos a defender contenção nas despesas de alojamento e nos prémios de jogos? Não, nesse ano distante de 2006 ninguém queria que o futebol desse o exemplo. Os artistas não podiam ser chateados com questões menores de impostos sobre os prémios, ou servir de modelo de austeridade.
Em abono da verdade, o futebol tem conseguido quebrar barreiras que nenhum político ousou ultrapassar. No campo, consegue-se colocar frente-a-frente inimigos figadais e unir povos desavindos. Também é verdade que algumas guerras começaram ou ameaçaram começar por razões aliadas a jogos que descambaram em confrontos entre claques...
Mas o Mundial que hoje começa na África do Sul será um verdadeiro teste ao continente africano. Estará à altura de um acontecimento destas dimensões? Os problemas raciais não se farão sentir? Para já, os sul-africanos têm demonstrado uma hospitalidade invulgar. Em nenhum outro continente as selecções foram tão bem acolhidas.
O país escolhido pela FIFA para organizar o Mundial, há 20 anos não aceitava que brancos e negros viajassem no mesmo autocarro, não permitia casamentos mistos e o acesso à terra era limitado a zonas onde não havia qualquer tipo de riqueza. O Presidente de então, F. W. de Klerk, conseguiu fazer aprovar o fim do apartheid, sobressaindo depois a figura mítica de Mandela que uniu um povo em torno de um sonho: igualdade de direitos e de obrigações. Não passaram muitos anos desde então, mas Mandela ficará para sempre ligado à História. Espera-se que este campeonato possa também contribuir para aproximar culturas tão distintas como são as dos vários continentes. E já agora que sejam um bálsamo para a depressão mundial. O futebol é magia. Esperemos que funcione.
vitor.rainho@sol.pt

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