sexta-feira, 11 de junho de 2010

Carta ao New York Times

Queridos jornalistas:

Sou um simples sacerdote católico. E sinto-me feliz e orgulhoso da minha vocação. Há vinte anos que vivo em Angola como missionário.
Dá-me grande dor pelo profundo mal que pessoas que deveriam ser sinais do amor de Deus, sejam um punhal na vida de inocentes. Não há palavra que justifique tais actos. Não há dúvida que a Igreja não pode estar senão do lado dos mais débeis e indefesos.
Portanto todas as medidas que sejam tomadas para protecção e prevenção da dignidade das crianças serão sempre uma prioridade absoluta.
Vejo em muitos meios de informação, sobretudo no vosso periódico, a ampliação do tema de forma mórbida, investigando em detalhe a vida de algum sacerdote pedófilo.
Por outro vejo o vosso desinteresse por milhares e milhares de sacerdotes que se consomem para ajudar milhões de crianças, adolescentes e outras pessoas mais desfavorecidas nos quatro cantos do mundo.
Penso que ao vosso jornal não interessa que eu tenha tido de transportar, por caminhos minados no ano de 2002, a muitas crianças desnutridas desde Cangumbe a Lwena (Angola), pois nem o governo o fazia nem as ONGs estavam autorizadas; que tenha tido de enterrar dezenas de pequenos falecidos entre os deslocados de guerra e os que haviam retornado; que tenhamos salvado a vida a milhares de pessoas no Moxico, mediante o único posto médico em 90.000 km2, assim como com a distribuição de alimentos e sementes; que tenhamos dado a oportunidade de educação nestes 10 anos e escolas a mais de 110.000 crianças... Não vos interessa que com outros sacerdotes tenhamos tido que socorrer a crise humanitária de cerca de 15.000 pessoas nos aquartelamentos da guerrilha, depois da sua rendição, porque não chegavam os alimentos do Governo e da ONU.
Não é noticia que um sacerdote de 75 anos, o P. Roberto, percorra todas as noites as ruas de Luanda cuidando dos meninos da rua, levando-os a una casa de acolhimento, para que se desintoxiquem da droga; que alfabetizem centos de presos; que outros sacerdotes, como o P. Stefano, tenham casas de passagem para as crianças que são golpeadas, maltratadas e até violentadas e procurem um refúgio.
Tão pouco é notícia que Frei Maiato com seus 80 anos, passe casa por casa confortando os enfermos e desesperados.
Não é notícia que mais de 60.000 dos 400.000 sacerdotes e religiosos tenham deixado a sua terra e a sua família para servir a seus irmãos numa leprosaria, em hospitais, campos de refugiados, orfanatos para meninos acusados de feiticeiros o órfãos de pais que faleceram com Sida, em escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de atenção aos sero-positivos… e, sobretudo, em paróquias e missões dando motivação às pessoas para viver e amar. ...........
Só lhe peço amigo periodista, busque a Verdade, o Bem e a Beleza. Isso o fará nobre na sua profissão.

Em Cristo,
P. Martín Lasarte sdb
In O Amigo do Povo
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Encerra hoje o Ano Sacerdotal.
Aqui fica o testemunho vivencial, humilde, autêntico de um sacerdote que, sem fugir aos problemas, chama a atenção da comunicação social para a VERDADE TODA!
Sinto como minhas as desculpas que o Papa apresentou à humanidade pelos pecados de pedofilia cometidos por sacerdotes.
Mas também sinto como minhas as verdades que o autor desta carta apresenta e que, normalmente são esquecidas pela comunicação social.
A todos os sacerdotes que, sem os holofotes da comunicação social, fazem da sua vida um serviço a Deus e ao homem, os meus parabéns!

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