sábado, 19 de junho de 2010

No vão da crise

A solução para a crise passa, pois e obrigatoriamente,
pela revalorização da família, pelo investimento na família

Maldita crise ou bendita crise? A crise é sempre maldita, por mais optimista que se seja e por mais virtudes que se lhe reconheça – e lá que as há... há!
Os portugueses – noticiou o Público há dias – estão a tirar os seus familiares idosos dos lares e a levá-los de volta para suas casas.
Ora aí estaria uma das virtudes da crise, se entre as suas consequências estivesse esta importante conquista da luta contra a solidão e abandono a que estão votados muitos milhares de idosos.
De facto, esse é um problema da modernidade, do desinvestimento na família e, essencialmente, de uma cultura de indiferença e de falta de solidariedade intergeracional numa sociedade cuja crise primeira e mais funda é a ausência de referências, virtudes ou valores.

Os portugueses, conclui-se, estão a tirar os seus idosos dos lares porque há cada vez mais desempregados, que – numa perspectiva benévola – têm assim mais tempo para acompanhar e dar a indispensável assistência aos seus ascendentes; ou que – numa visão cruamente mais materialista –, à falta de rendimentos, precisam mas é do dinheiro das respectivas pensões e da poupança com as mensalidades dos tais lares.
Até porque, para quem passa à condição de desempregado, de nada lhe serve poder deduzir à matéria colectável (nesse caso, qual?), em sede de IRS, os gastos com essas instituições.
É claro que é questionável que o Estado, por via fiscal, tenha andado na prática a incentivar os internamentos dos idosos nesse tipo de casas – aliás, em geral, de trabalho meritório.
Como igualmente é discutível que o Estado se preocupe tanto em apoiar as instituições que respeitavelmente acolhem crianças em situação de alegado risco e não trate, antes, de apoiar as respectivas famílias por forma a terem condições para integrarem todos os seus membros.
Bem pelo contrário, o Estado continua a castigar a família – por exemplo, quando, entre as primeiras medidas de austeridade, logo levianamente se propõe acabar ou reduzir as deduções com a Saúde (que mais afectam quem tem dependentes idosos) e a Educação (penalizando quem tem descendentes menores).

Mais ainda em tempo de crise, a família é um esteio fundamental que o Estado deveria preocupar-se em defender.
O Estado e as empresas. Principalmente aquelas cujos manuais de ‘boas práticas’ aconselham à ausência de horários – com isenções generalizadas ou horas extraordinárias ilimitadas – e que até ao fim-de-semana promovem dispendiosos encontros de quadros (normalmente fora das suas instalações e em locais aprazíveis) para que os trabalhadores se sintam na empresa como se esta se tratasse da sua família.
Um disparate. A empresa é local de trabalho onde o ambiente é tanto melhor e a produtividade tanto maior quanto maior for o profissionalismo, a exigência e o aproveitamento efectivamente rentável do tempo de trabalho. E quem diz a empresa diz o Estado.
Em Portugal, como na maioria dos países latinos, passa-se demasiado tempo no emprego e tempo de menos a trabalhar.
E o trabalhador ou empregado pouco tempo tem para a sua vida pessoal e familiar.
Como se esse tempo fosse negligenciável ou um desperdício.
Não é. A motivação para a produtividade e competitividade depende em muito da capacidade de realização de cada trabalhador no trabalho e fora dele.
A máxima que deveria valorizar-se ‘é trabalhar para viver’ e não ‘viver para trabalhar’.
É verdade que o trabalho dá saúde. Mas o trabalho em excesso ou o tempo inutilmente perdido no emprego não interessa a ninguém – é energia esbanjada.

A crise que há que enfrentar não se ultrapassa com vaquinhas de sacrifícios ou cortes avulsos.
Ultrapassa-se, sim, com confiança e trabalho, com criatividade e trabalho, com solidariedade e trabalho.
E com medidas de ruptura, que obrigam a contar com a família como núcleo-base fundamental para enfrentar os inevitáveis sacrifícios sociais.
A solução para a crise passa, pois e obrigatoriamente, pela revalorização da família, pelo investimento na família.
E, claro, por mais, mais criativo e mais produtivo trabalho.
Se assim acabar por vir a ser – e só por isso –, bem haja a crise!
Fonte: aqui

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