quarta-feira, 11 de abril de 2007

Aprende-se muito junto à cama de um doente

Como é costume na Quaresma, também este ano o Pároco e o GASPTA (Grupo de Acção Sócio-Caritativa da Paróquia) visitaram os doentes desta comunidade paroquial. Em alguns povos, também ministros extraordinários da comunhão nos acompanharam. Visitámos 40 acamados. Claro, sem contar os do Lar e os do Hospital. A grande maioria deles quis confessar-se após a visita.
Como alguém disse, os doentes são uma verdadeira “universidade de vida”. Eles chamam-nos ao fundamental. Tantas vezes distraídas, as pessoas acabam por não dar importância ao que realmente importa.
Com os doentes aprendemos a importância de um sorriso, a delicadeza de um gesto; com os doentes, descobrimos como sabe bem uma boa brincadeira, como é fundamental haver quem saiba escutar; com os doentes, saboreamos a vida e tomamos consciência da nossa fragilidade; com os doentes, sentimos Deus que nos toca, nos abraça, nos conforta. Ali, junto à fragilidade, tantas vezes quase total, ressoa o dom da fé que dá sentido ao sofrimento, reforça a coragem interior e prepara caminhos de ressurreição.
Quem visita doentes, tantas vezes fica edificado pela coragem e a determinação de muitas esposas, maridos, filhos, pais em relação aos seus doentes. Quanto carinho! Quanta solicitude! Quanto desprender-se de si mesmo em favor de quem sofre.
Retenho no coração o testemunho daquela esposa que há muitos anos tem o marido na cama, completamente dependente dela. O carinho com que fala ao marido, o esmero com que o trata, o imolar-se no altar do serviço quando ela mesma é doente. E sem queixumes, sem azedume. Apenas pede a Deus que lho conserve por muitos anos. E como não recordar aquela doente que diz com o sorriso a bailar-lhe nos lábios: “Os meus filhos podem vir cansadinhos do trabalho, mas todos os dias por aqui passam. Estou muito agradecida ao Senhor pela maravilha de filhos que Ele me deu.” E de tantas pessoas sofredoras a quem a solicitude familiar dá razão para continuarem a lutar pela vida. “Os meus filhos estão longe, mas não há dia nenhum em que, pelo menos, um deles me não telefone. E enquanto eu sentir aquelas vozes quentes de amor quero continuar a viver.”
“Agora já não sirvo para nada, só para dar trabalho”, diziam alguns. Servem, sim senhor. E muito! Enquanto houver alguém que fique feliz por os ver, vale a pena viver. Enquanto a fé elevar ao Pai uma um hino de louvor ou uma prece sentida pelos outros, continuarão a ser esteios do mundo. Enquanto forem catedráticos a oferecerem lições ao mundo no altar do sofrimento, vale a pena viver.
Obrigado, irmãos doentes, por tanta serenidade, por tanta fé, pelo gosto com que nos acolhestes, pelas mensagens que nos transmitistes, pelos sorrisos que nos encheram a alma, pela oportunidade que nos destes de aprender convosco. Parabéns a todos os que tratam dos doentes e a eles dão, bastantes vezes, mais do que aquilo que podem. Convosco, aprendemos que só “serve para viver quem vive para servir”. Um bem-haja sentido aos membros do GASPTA pela companhia amiga e, sobretudo, pela forma edificante como souberam estar junto dos doentes, ouvindo, fazendo sorrir, compreendendo, estimulando. Mais do que a prendinha que entregaram a cada doente, valeu a entrega pessoal.

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