É complicado falar dos Seminários, da vocação sacerdotal, nas nossas assembleias dominicais. A maioria são mulheres e, portanto, são, infelizmente, uma espécie de “carta fora do baralho” e as que são “mães” não estão muito interessadas em «alienar» o filho único; as que encontram um rapaz à medida, não o querem perder. A maioria dos fiéis são «idosos» e, portanto, «fora do prazo de validade», a quem se pede pouco mais do que rezar e contribuir com alguma ajuda financeira para os seminários.
As mensagens destes dias são, por regra, dirigidas a crianças, adolescentes e jovens, os quais, mesmo se comprometidos na vida comunitária, em muitos casos, não estão «nem aí». Até valorizam a missão do padre, mas acham que é muito bonita, mas é para os outros!
Eu penso muitas vezes que os potenciais “vocacionados” poderiam estar entre alguns adultos, cuja vida cristã já provada e acrisolada pela dureza da vida, recomendaria uma «chamada» da Igreja, dentro da chamamento batismal, matrimonial e até diaconal. Mas não sei porquê, continuamos a «fazer de conta» que isto de ser «presbítero» (literalmente, «o mais velho») é para os mais novos. E, enquanto não se reforçam os «quadros de pessoal», agrupam-se seminários para ter uma comunidade educativa significativa, multiplicam-se as responsabilidades dos padres em exercício, até à exaustão e à tentação de que, havendo tanto a fazer, se acabar por não fazer nada de jeito. Com a “correria” da vida sacerdotal, até os nossos mais próximos e familiares, que nos acompanham e estimam, acham que isto não é «profissão saudável» (cito!).
Pessoalmente, faço tudo por tudo, faço tudo o que posso, para mostrar a beleza e a felicidade da vida sacerdotal – e faço-o com autenticidade e não por pressão do mercado – mas percebo que, sob várias perspetivas, o meu estilo de vida presbiteral parece, cada vez mais, não apenas socialmente desinteressante, como evangelicamente pouco atraente. Que Deus me perdoe!
Diz-se, por aí e por muitos lados, que esta crise de resposta à vocação sacerdotal é uma crise de fé e de generosidade, crise demográfica e crise de compromisso. Mas se é uma crise de fé: de que fé, da fé de quem? Da fé de alguns cristãos, que vivem um cristianismo mediano ou medíocre, alérgico à radicalidade evangélica e ao compromisso? Talvez, sim. Mas não será também esta resultante de uma crise de fé da própria Igreja, que não consegue ler e ver os sinais, discernir e decidir, abrindo caminhos com futuro, em vez de teimar, por exemplo, associar ao sacerdócio ministerial, o celibato, que afinal é e sempre foi “mais da conveniência do que da essência” do ministério presbiteral?! Estamos ainda prisioneiros de uma visão puritana da sexualidade, que quer preservar e separar o presbítero de uma “impureza” que para outros é virtude? A quem queremos convencer hoje de que o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas e de dar a Cristo o primeiro lugar, é exclusivo de uma vida consagrada e não é para todos os batizados?
Há tanto para pensarmos juntos, sem ilusões, sem remédios fáceis. Mas andamos a adiar a escolha de outros caminhos, quando os que mantemos parecem conduzir-nos a um beco sem saída.
Sei que me vejo a chegar à casa dos 60 anos (daqui a três meses) e diante de um cenário, em que parece já darmos por perdida a batalha e a certeza de que, pouco a pouco, as comunidades irão ser mais pequenas, mais reduzidas, desacompanhadas, obrigadas a deslocar-se para algum «centro maior». Irá diminuir a frequência dos sacramentos. E, por isso, nada de afligir. Falta discernir se é o Espírito Santo, que quer mesmo menos padres para uma Igreja que seja mais de todos, verdadeiramente «popular», ou se quer outros padres, ou se quer ambas as coisas, ou se quer outra coisa?! Não sei. Na verdade, “ninguém pense ter todas as respostas. Cada um partilhe com abertura o que tem. Todos acolham com fé o que o Senhor inspira” (Leão XIV, Homilia, 1.09.2025).
Disse o nosso Bispo do Porto em Fátima: “Julgo que está na hora de convocar um Sínodo Diocesano como uma dimensão pastoral global, sem desprezar a própria assistência e guia futura das comunidades. Não tenhamos dúvida: dentro de uma década, o clero diocesano baixará imensamente. Como assegurar os sacramentos, a organização das comunidades e a atividade sócio caritativa representada, por exemplo, pelos Centros Sociais Paroquiais? Esta é uma urgência. Não para amanhã; era já para ontem”.
Um sínodo diocesano é muito bem-vindo para agitar consciências, para envolver a todos, para agilizar processos de escuta e de partilha, para despertar outros dinamismos de corresponsabilidade pastoral, para abrir novos caminhos e fronteiras de missão, para procurar respostas à altura do presente e do futuro. Venha ele, mesmo sabendo nós que não terá a força de mudar a disciplina da Igreja universal sobre o perfil e a formação dos presbíteros. Mas pode ser uma voz forte. Que a voz sinodal do Porto se una a todas as outras vozes da Igreja em Portugal e no mundo, até que um coro universal possa fazer-se ouvir e afinar, desde Roma, critérios para uma vida sacerdotal que Deus recomende!
Amaro Gonçalo, Facebook
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