Um texto a não perder... Uma análise crua sobre a realidade da Igreja e da
adesão dos jovens a ela. Para ler com calma, reflectindo bem.
Se não renovar a sua ligação com as novas
gerações, a Igreja da Europa está naturalmente destinada a desaparecer. Sem
jovens, com efeito, as paróquias morrem, por simples falta de reposição de
gerações; sem paróquias, enfraquecem até ao esgotamento total as associações e
os movimentos, que, apesar de todas as afirmações em contrário, continuam a
encontrar precisamente aí os seus adeptos.
Se não mudar de rumo, a Igreja transformar-se-á
numa presa que corre o risco de não fidelizar (jamais palavra alguma
foi tão apropriada!) novos clientes. Nunca deveríamos esquecê-lo.
Contudo, as estratégias atuais para retomar o
diálogo com os jovens não se revelam muito convincentes. Na verdade, não são
eficazes. Ainda outro exemplo: a que critérios corresponde o horário das missas
dominicais da maior parte das paróquias? Dá a impressão de que são os mesmos que
foram adotados na sequência da introdução da missa em língua vernácula no
pós-Concílio.
Ao mesmo tempo, porém, a sociedade mudou
radicalmente, passando de um modelo substancialmente agrícola para um modelo
pós-industrial: o mundo atual tornou-se assim mais noturno e menos fascinado
pelas primeiras luzes da aurora, ou seja, um mundo que gosta de ir para a cama
precisamente com as primeiras luzes da aurora. Sobretudo da aurora que separa ou
une o sábado ao domingo. Qualquer um perceberá por si mesmo que há qualquer
coisa, também nesse âmbito, que deveria mudar.
Chegados a este ponto, a interrogação é esta: o
que está subjacente à pouca atenção prestada à realidade juvenil por parte da
comunidade crente? O que é que a impede de se deixar levar por um profundo abalo
interior e exterior, ao programar as suas atividades destinadas aos jovens? Como
é que ela consegue continuar a dormir, enquanto o terreno do seu possível futuro
se vai esboroando lentamente, pelo menos na Europa?
O ponto nevrálgico sobre o qual assenta toda
esta questão diz respeito à elaboração falhada da distância
efetivamente existente entre o jovem destinatário ideal das iniciativas
eclesiais implementadas e o perfil real dos jovens de hoje, aqui sumariamente
identificados como pertencentes à geração sem antenas para Deus. Uma
distância ofuscada, aliás, pelo recente uso identitário da religião por parte
dos próprios jovens, na esteira do modelo da pertença sem crença, ou seja, de um
singular «Igreja sim, Cristo não».
Por isso, embora apercebendo-se dos
comportamentos juvenis alheios a ritos em matéria de fé e de moral (et
quidem de moral sexual), da sua deserção da missa dominical, do seu
analfabetismo bíblico e teológico, na Igreja continuamos a tranquilizar-nos
afirmando que os jovens já não são os de antigamente. Em suma, que
passe a ser «normal» que os jovens não sejam normais. Que não haja nada de
particularmente preocupante no desvio dos seus estilos de vida e de pensamento
do cânone tradicional de sabedoria humana e cristã. Mas, depois, ficamos sem
palavras – esta, sim, uma característica típica dos adultos contemporâneos –
frente a comportamentos aterradores de que são protagonistas os próprios
jovens.
É precisamente aqui que se deve identificar a
raiz primordial daquela baixa qualidade de atenção de que parecem gozar os
jovens de hoje por parte do mundo eclesial. E não só. Também há que ter em
conta, de um modo mais geral, a permanente dificuldade e resistência de muitos
crentes em se ajustar à realidade da mudança de época do nosso tempo.
A condescendente retórica de um mundo que
está a mudar, aliás, um dado adquirido para toda a realidade viva, parece
impedir, mais do que facilitar, a plena assunção do facto de que o mundo já
mudou. E de modo radical! Isso impõe a necessidade de redefinir o perfil de
um crente à altura da mudança ocorrida. Com efeito, se no passado podia ser
suficiente a simples catequese sacramental e a frequência das «festas
obrigatórias» para ter o título de «crente», tendo em conta que muitos dos
comportamentos atuais (divórcio, aborto, etc.) eram perseguidos pela lei ou
tecnicamente impossíveis (intervenções estéticas, mudança de sexo, etc.), e que
também era tido em conta o caráter exemplar dos personagens públicos e a atitude
digna da sociedade no seu conjunto, atualmente tudo isso já não é suficiente.
Para «fazer» um crente é preciso mais do que isso. É difícil que tudo isto passe
a ser uma opinião partilhada.
Como explicar, por outro lado, a extraordinária
lentidão com que a comunidade eclesial se vê a si própria – e aqui não estamos a
falar da invenção de novas formas e de novos movimentos, pois já os há em número
suficiente – em relação à incredulidade que enforma a geração juvenil? Ou como
justificar a surpreendente repetitividade de liturgias e de eventos que marca o
ano pastoral das paróquias e dos oratórios, das associações e dos movimentos?
Parece-nos estar a assistir a uma viragem de época de alcance singular: o
Cristianismo, que graças à sua origem judaica rompera o conceito cíclico do
tempo, típico da cultura grega, em favor de um futuro que apela sempre a coisas
novas, está hoje cada vez mais dominado por aquilo que, com fina ironia,
Nietzsche definia como o seu monótono-teísmo!
Os jovens – e que isto seja acolhido como
verdade até ao limite máximo em que um conceito pode descrever a realidade – já
não são os de antigamente, no que diz respeito à prática religiosa. Já não
provêm de famílias que os tenham instruído o suficiente sobre os valores da
sabedoria tradicional, já não frequentam as aulas de uma escola capaz de lhes
transmitir o sentido global de uma formação humana e de um substrato cristão.
Ninguém lhes deu testemunho da importância de uma vida de fé e de oração, de uma
leitura constante do Evangelho, de uma atitude de humildade e de fraternidade.
Já não são os de antigamente: a única ressurreição de que tiveram conhecimento
foi a da bela morena Taylor da série televisiva Beautiful... Muito
diferente da ressurreição de Jesus Cristo!
Frente a estes jovens, a comunidade dos crentes
é chamada a transformar-se, a fazer-se solidária com os jovens casais com cada
vez mais dificuldades em serem iniciados ao humano e ao Evangelho, e com os
mestres únicos da nossa escola primária, cada vez mais oprimidos pelo mito do
desempenho.
Não se trata, certamente, de atribuir culpas ou
de fazer juízos, mas de ler a realidade que está à vista de todos. Os jovens
mudaram porque o mundo mudou; o Ocidente mudou, a família mudou, a escola
mudou...; porque não havia de mudar também a Igreja?
O passo a dar pode ser facilmente enunciado em
termos teóricos: consiste em transformar as comunidades eclesiais – de modo
particular as paróquias, mas também, em certa medida, as associações e os
movimentos – em «lugares» onde se aprenda a acreditar e onde se aprenda a rezar.
Lugares onde se possa decidir crer. Lugares onde se gere a fé. Lugares
à medida daqueles laboratórios da fé, desejados por João Paulo II.
Lugares em que os próprios jovens possam confrontar a sua ignorância em relação
ao Jesus do Evangelho e ao Evangelho de Jesus, e as suas pretensões infantis em
relação à existência e à Igreja; lugares de repouso, de liberdade, de passagens
e de paisagens a contemplar, a admirar, a interrogar e a pôr à prova; lugares
onde elaborar o mal-estar cultural que atormenta as pessoas; lugares facilmente
transitáveis, subtraídos à mania clerical da diaconia a todo o custo, em favor
de um simples seguimento.
Trata-se, em suma, por parte dos adultos crentes,
de tomar consciência de que, para os jovens de hoje, a fé é uma língua
estrangeira. E cada um sabe como é difícil aprendê-la em idade madura, e como
pode ser igualmente complicado ensiná-la a quem já não é criança. É este o
desafio: a fé já não é uma opção hereditária, mas uma decisão que deve ser
preparada e promovida.
À luz das reflexões conduzidas até aqui, não
parece haver outros caminhos a percorrer. Como é óbvio, ninguém tem, a esse
respeito, receitas prontas, no horizonte não se destaca nenhum padre tipo Harry
Potter que, com uma poderosa varinha mágica, abra «novos céus» e «nova terra»
para a pastoral dedicada aos jovens. Tal facto, porém, não exonera ninguém do
trabalho de procurar «provas partilhadas», de perscrutar a tradição, mas,
sobretudo, de experimentar novos caminhos. Seguindo, no entanto, uma trajetória
precisa: não se tratará de concentrar a atenção apenas numa ação
especificamente projetada para os jovens. É antes o tecido quotidiano, ferial,
ordinário de toda a comunidade cristã que deverá testemunhar uma generosa
abertura e atenção em relação aos mesmos, a partir dos cânticos e dos horários
da missa, de um renovado investimento da sua presença na universidade e nos
locais de trabalho, de uma renovação das dinâmicas culturais que apoiam o
anúncio, do assumir aquela emergência educativa para a qual Bento XVI apelou
vigorosamente à opinião pública.
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