Vida humana deve estar acima de interesses económicos, disse Francisco, que lembrou quem tem fome
O Papa Francisco apelou hoje no Vaticano à defesa do ambiente e da vida humana, que diz serem ameaçados por uma cultura do “descartável” e do desperdício, por causa do consumismo.“Aquilo que domina são as dinâmicas de uma economia e de finanças carentes de ética: assim, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo, é a cultura do descartável”, disse, perante dezenas de milhares de pessoas reunidas para a audiência pública semanal, na Praça de São Pedro.
O Papa lamentou que a pobreza e os “dramas de tantas pessoas”, em particular as mais necessitadas, deixem de ser notícia e acabem por entrar na “normalidade”.
"Se numa noite de inverno aqui, na Piazza Ottaviano, por exemplo, uma pessoa morre, isso não é novidade. Se em muitas partes do mundo há crianças que não têm nada para comer, isso não é novidade, parece normal. Isso não pode ser! E estas coisas entram na normalidade: que sem-abrigo morram de frio na rua não é notícia; pelo contrário, por exemplo, uma queda de 10 pontos em bolsas de algumas cidades é uma tragédia. O que morre não é notícia, mas se as bolsas caem 10 pontos é uma tragédia. Assim, as pessoas são descartadas. Nós, as pessoas, somos descartadas, como se fêssemos desperdício”, alertou, falando de improviso.
A intervenção abordou ainda o tema do Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano, que hoje se celebra, ‘Pensar.Comer.Conservar’, centrado no problema do desperdício alimentar.
De acordo com a organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), 1,3 mil milhões de toneladas de comida são desperdiçadas anualmente, número equivalente à quantidade de alimentos produzidos em toda a África subsariana; todos os dias mais de 20 mil crianças com menos de cinco anos morrem de fome.
“A cultura do descartável tornou-nos insensíveis ao lixo e ao desperdício alimentar, que são ainda mais lamentáveis quando em todas as partes do mundo, infelizmente, muitas pessoas e famílias sofrem de fome e subnutrição”, observou o Papa.
Francisco recordou que as gerações dos “avós” tinham muita atenção para não deitar comida fora, mas que hoje o “consumismo” levou as pessoas a habituarem-se “ao supérfluo e ao desperdício diário de alimento”, cujo valor “vai para lá dos meros parâmetros económicos”.
“A comida que deitamos fora é roubada da mesa de quem é pobre, de quem tem fome”, avisou, em espanhol.
A intervenção referiu que os Papas têm falado de uma “ecologia humana” estreitamente ligada à “ecologia ambiental”, em particular no atual momento de crise que ameaça as pessoas.
“O perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é só uma questão de economia, mas de ética e antropologia”, precisou.
Neste contexto, Francisco disse que a vida humana já é vista como “valor primário a respeitar e tutelar”, em particular quando é “pobre ou deficiente, se ainda não serve – como o bebé por nascer – ou já não serve – como o idoso”.
“Convido todos, neste Dia Mundial do Ambiente, a um sério compromisso no sentido de se respeitar e guardar a criação, ser solícito por cada pessoa e combatera cultura do descartável e do desperdício com uma cultura da solidariedade e do encontro”, propôs o Papa, na sua catequese.
A audiência contou com uma saudação aos peregrinos de língua portuguesa, que foram encorajados a “apostar em ideais grandes de serviço, que engrandecem o coração”.
In agência ecclesia
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