O Antigo Testamento desdobrou o Decálogo numa panóplia de preceitos que os especialistas coligiram num número que chegou a 613.
Jesus foi confrontado, várias vezes, com a putativa desobediência à Lei.
Ele não era, obviamente, um contestário da Lei, mas esta não era o absoluto.
Como se vê no (magno) preceito do Sábado, a lei era para o homem, não era o homem para a lei.
O bem da pessoa era a prioridade.
Por isso é que Jesus não apontou leis. Deixou-nos apenas um mandamento que, aliás, selou com o Seu sangue.
Trata-se do mandamento do amor: do amor a Deus e do amor ao próximo.
Sucede que a Igreja foi-se tornado num repositório de regras, normas e leis. Muitas são as vezes em que se apela para todo esse aparato legislativo.
Além das leis gerais, cada instituição tem as suas constituições que os seus membros procurarão cumprir.
A páginas tantas, quiçá sem nos apercebermos, vemos mais Jesus a partir das leis eclesiásticas do que as leis eclesiásticas a partir de Jesus.
Mais, por vezes, surge a dúvida. Será que, ao cumprirmos certas leis, não estaremos a afastar-nos do espírito de Jesus?
Nessa altura, está tudo invertido. Se a função da lei seria aproximar-nos de Jesus, como se explica que d'Ele nos afaste?
Tantos são os exemplos que cada um aloja dentro de si...
Também aqui, é fundamental regressar a Jesus. Herbert Haag, pouco antes de falecer, sugeriu a publicação de uma Constituição para a Igreja que compendiasse o espírito do Evangelho.
Com todo o respeito, penso que deveríamos caminhar para um momento em que nos despojássemos de tudo para ficarmos só com o Evangelho.
Se o Evangelho é a vida e a mensagem de Jesus, então é a isso que temos de nos ater.
Importa, por outro lado, ter presente que foi em nome de leis que, muitas vezes, se matou, perseguiu e controlou a vida das pessoas. Tudo ao contrário do Evangelho.
Houve leis eclesiásticas que chegaram a admitir a pena de morte. Nada em Jesus cauciona tal.
Mas, a montante de tudo o resto, há uma pergunta que subsiste: como é possível transformar uma pessoa numa lei?
As leis são necessárias, mas também permitem o que há de mais aviltante. Luther King chamou a atenção para o facto de Hitler ter agido dentro da maior legalidade.
Kadhafi também invocará a lei. Se os povos se submetessem, pura e simplesmente, às leis, as injustiças não teriam fim.
As leis podem facilitar a aplicação de um projecto. Mas podem também desviar-nos da centralidade de uma mensagem.
Sei que não será no meu tempo, mas sonho com o dia em que cada cristão esteja concentrado no Evangelho. Apenas. E sempre.
Fonte: aqui
Em comentário ao post citado, comenta o autor do blog:
"Já não basta mudar leis. É urgente mudar de paradigma. Metaforicamente, a situação pode condensar-se da seguinte forma. A Igreja foi de Jerusalém para Roma. É fundamental voltar de Roma para Jerusalém. Como advertem alguns estudiosos, em Roma está a tiara (símbolo do poder), em Jerusalém a coroa de espinhos (sinal do amor imenso de Jesus). No funde, urge regressar a Jesus.
Obrigado por tudo. Abraço amigo no Senhor."
Obrigado por tudo. Abraço amigo no Senhor."
Tanto o texto como o comentário são belos e oportuníssimos. Parabéns, Doutor João António.
Gostaria de dizer que estou de acordo, mas ... não estou!
ResponderEliminarO Evangelho é, Ele próprio, um Código com "Leis", com vinculação a práticas, com princípios fundamentais, com normas de actuação imediata.
Levados à sua execução, os ensinamentos de Jesus são Leis.
A palavra de Deus é (deve ser) Lei!
É o maior exemplo de que, mesmo na religião, as leis são uma exigência do devir humano.
E é a nós, humanos, que o Evangelho se destina...
Serão, necessárias outras leis?
Para o Homem, à medida que se afasta do Evangelho, serão necessárias mais e mais leis, onde quer que o poder da Igreja se situe.
A diferença essencial, estará na forma e, sempre, na sanção.
NPL