Mas quem puder fazer agricultura de complemento de emprego faz bem e só ganha com isso.
Ouve-se muitas vezes que alguns produtos agrícolas ficam mais baratos comprando-os do que cultivando-os. Penso que isto soa a desculpa arrancada à preguiça e à inércia. Uma coisa é sair de casa e chegar à horta e trazer as couves precisas, outra é ir ao mercado e fazer contas ao custo de cada couve.
O que fica cara é a mão-de-obra. Se cada família cultivar pelos seus próprios braços aquilo de que precisa para ter a casa farta, pensem no que se pouca!
Além disso, muitos empregos terminam pelas 16, 17 horas. No Verão significa poder trabalhar mais três ou quatro horas. Dá para contactar com a natureza, fazer exercício e produzir aquilo de que se precisa. Não o fazer, pode significar ficar nos cafés a gastar aquilo que se ganhou, obrigar a família a gastar dinheiro naquilo que se podia produzir, ficar privado do contacto com a natureza, sempre relaxante, e do exercício físico.
Este tempo de crise bem podia ajudar as famílias a repensarem-se e a reorganizarem-se, acabando com as manias parolas que levam ao preconceito de que trabalhar no campo é "baixar de estatuto."
E por que razão não hão-de os pais ensinar os filhos e filhas a cultivar a terra? É algum desprestígio? Sabe-se lá o que o futuro reserva... Olhem que se avizinham tempos bem complicados! E homem e mulher preparados valem por dois. Ou será melhor deixá-los "apodrecer" frente as consolas, tv e computadores? Ou será melhor deixá-los borboletar pela night, pelas piscinas, pelas estradas?
Claro que quando se não quer algo, o que não faltam são desculpas... Há por aí tanta terra abandonada cujos donos a cederiam gratuitamente só pelo gosto de a verem cultivada!
Tenho na minha terra um pequenino terreno que há 10 anos estava abandonado às silvas e aos fieitos. Consegui, através de um bom amigo, um grupinho de homens para que o espaço fosse limpo para posterior replantação. Envergonhava-me ver aquilo assim.
Dado que não tenho tempo para essas tarefas e que o terreno me fica longe, vou lá plantar árvores que exigem menos cuidados com os tratamentos, como oliveiras, castanheiros, amendoeiras...
- Oh! Isso já não vem a tempo de o senhor usufruir em pleno da produção! - sentenciava-me há dias uma pessoa amiga. - Demoram muitos anos a produzir em condições!Eu respondi-lhe com a resposta que um velhote deu a alguém que lhe fez semelhante observação no momento em que ele plantava uns castanheiros:
- Colhemos muito daquilo que os nossos antepassados semearam. Por que não devemos nós semear para os que vêm a seguir colham?
Também é com acções destas que se combate a crise. Nesse sentido penso que estou a dar um grãozinho de areia.
Excelente ideia! A terra e o mar são as fontes de rendimento mais generosas - e mais baratas - e mais saudáveis.
ResponderEliminarPena que os nossos políticos incompetentes e ignorantes não pensem assim...
Aliás, não foi o actual PR um dos fautores da destruição da nossa agricultura e das pescas...?!
Obrigado, amigo, pela sua sempre apreciada presença.
ResponderEliminarConcordo consigo. Mas, dado o descrédito da classe política - bem conhecida e sentida por todos - não seria de as famílias começarem a agir pela sua própria cabeça?
Há dias um filho queixava-se diante do pai que nada sabia do campo porque quando era novo e fazia questão de o ajudar nas lides campestres, o pai o mandava para casa...
Somos um povo que parolamente vive muito do preconceito e do dar nas vistas, aparências. E acham que trabalhar na terra ou ensinar os filhos a fazê-lo é desprestigiante. E quando chegamos aqui, só nos resta imediatamente arrepiar caminho.
Abraço no Senhor.