quinta-feira, 3 de março de 2011

E por que razão não hão-de os pais ensinar os filhos e filhas a cultivar a terra?

Nos moldes actuais, a agricultura nesta região não dá. O preço da  mão-de-obra é incompatível  com o rendimento que se tira dos campos. Não porque os trabalhadores ganhem muito, mas porque os preços dos produtos pagos ao agricultor são baixos, muito baixos mesmo. Claro que depois no mercado os mesmos produtos já não são assim tão baratos. Talvez porque os que os comercializam e os que os  vendem ganhem demais.

Mas quem puder fazer agricultura de complemento de emprego faz bem e só ganha com isso.
Ouve-se muitas vezes que alguns produtos agrícolas ficam mais baratos comprando-os do que cultivando-os. Penso que isto soa a desculpa arrancada à preguiça e à inércia. Uma coisa é sair de casa e chegar à horta e trazer as couves precisas, outra é ir ao mercado e fazer contas ao custo de cada couve.
O que fica cara é a mão-de-obra. Se cada família cultivar pelos seus próprios braços aquilo de que precisa para ter a casa farta, pensem no que se pouca!
Além disso, muitos empregos terminam pelas 16, 17 horas. No Verão significa poder trabalhar mais três ou quatro horas. Dá para contactar com a natureza, fazer exercício e produzir aquilo de que se precisa. Não o fazer, pode significar ficar nos cafés a gastar aquilo que se ganhou, obrigar a família a gastar dinheiro naquilo que se podia produzir, ficar privado do contacto com a natureza, sempre relaxante, e do exercício físico.
Este tempo de crise bem podia  ajudar as famílias a repensarem-se e a reorganizarem-se, acabando com as manias parolas que levam ao preconceito de que  trabalhar no campo é "baixar de estatuto."
E por que razão não hão-de os pais ensinar os filhos e filhas a cultivar a terra? É algum desprestígio? Sabe-se lá o que o futuro reserva...  Olhem que se avizinham tempos bem complicados! E homem e mulher  preparados valem por dois. Ou será melhor deixá-los "apodrecer" frente as consolas, tv e computadores? Ou será melhor deixá-los borboletar pela night, pelas piscinas, pelas estradas?
Claro que quando se não  quer algo, o que não faltam são desculpas... Há por aí tanta terra abandonada cujos donos a cederiam gratuitamente só pelo gosto de a verem cultivada!

Tenho na minha terra um pequenino terreno que há 10 anos estava abandonado às silvas e aos fieitos. Consegui, através de um bom  amigo, um grupinho de homens para que o espaço fosse limpo para posterior replantação. Envergonhava-me ver aquilo assim.
Dado que não tenho tempo para essas tarefas e que o terreno me fica longe, vou lá plantar árvores que exigem menos cuidados com os tratamentos, como oliveiras, castanheiros, amendoeiras...
- Oh! Isso já não vem a tempo de o senhor usufruir em pleno da produção! - sentenciava-me há dias uma pessoa amiga. - Demoram muitos anos a produzir em condições!
Eu respondi-lhe com a resposta que um velhote deu a alguém que lhe fez semelhante observação no momento em que ele plantava uns castanheiros:
- Colhemos muito daquilo que os nossos antepassados semearam. Por que não devemos nós semear para os que vêm a seguir colham?
Também é com acções destas que se combate a crise. Nesse sentido penso que estou a dar um grãozinho de areia.

2 comentários:

  1. Excelente ideia! A terra e o mar são as fontes de rendimento mais generosas - e mais baratas - e mais saudáveis.
    Pena que os nossos políticos incompetentes e ignorantes não pensem assim...
    Aliás, não foi o actual PR um dos fautores da destruição da nossa agricultura e das pescas...?!

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  2. Obrigado, amigo, pela sua sempre apreciada presença.
    Concordo consigo. Mas, dado o descrédito da classe política - bem conhecida e sentida por todos - não seria de as famílias começarem a agir pela sua própria cabeça?
    Há dias um filho queixava-se diante do pai que nada sabia do campo porque quando era novo e fazia questão de o ajudar nas lides campestres, o pai o mandava para casa...
    Somos um povo que parolamente vive muito do preconceito e do dar nas vistas, aparências. E acham que trabalhar na terra ou ensinar os filhos a fazê-lo é desprestigiante. E quando chegamos aqui, só nos resta imediatamente arrepiar caminho.
    Abraço no Senhor.

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