Se a sociedade se assemelha a um vulcão perto de explodir, a classe política parece uma tempestade já a desabar.
A tomada de posse do reeleito Presidente da República foi marcada pelas reacções negativas de parte do Parlamento.
Nada disto é dramático. Em democracia, ninguém se deve sentir coagido ao falar e ninguém se deve sentir inibido no reagir.
Um sistema político como o nosso é feito daquilo que, habitualmente, recebe o nome de «checks and balances» (pesos e contrapesos). Ou seja, os diferentes poderes controlam-se mutuamente.
É assim que nem o presidente da república está acima da crítica. Mas se não está acima da crítica, também não estará diminuído na sua capacidade de intervenção.
E a tradição democrática portuguesa mostra que o chefe de estado costuma ser bastante assertivo nas apreciações das políticas governativas.
Há quem veja, no discurso de Cavaco Silva, uma preparação para a demissão do governo. Penso que tal leitura é excessiva.
Mais do que mudança de políticos o que se espera é uma mudança de políticas.
E se alguma coisa há a reter é que há limites para os sacrifícios.
O apelo ao sobressalto cívico parece replicar o direito à indignação, defendido por outro presidente da república.
Não creio que o discurso presidencial tenha primado pela novidade. Foi até redundante. Limitou-se a fazer eco da realidade quotidiana.
Mas há coisas que dificilmente mudarão. Deixar de tomar medidas por instinto, por puro voluntarismo, ou fazer nomeações por mérito e não por critérios de ordem partidária era necessário, mas parece quase impossível. O código genético da política lusa não consentirá mudanças em certos domínios. Nem à direita nem à esquerda.
Não há drama nas palavras do presidente. Drama há (e não é pequeno) no dia-a-dia das pessoas.
E todos os esforços devem ser conjugados na resolução dos problemas. Não no seu agravamento.
Mas, já agora, um pouco de fair play fica bem a toda a gente. Até à classe política. O discurso presidencial terá sido duro, mas daí a qualificá-lo como sectário vai uma grande distância. Há que ter alguma temperança. Na acção e na reacção. No aplauso e na crítica.
Confesso que também não gostei muito do que ouvi hoje. Mas gosto ainda menos do que vejo todos os dias.
E reconheçamos que, diante do desemprego galopante, do aumento do custo de vida e da insegurança, é difícil tecer grandes ornamentos retóricos.
Não vale a pena amuar por causa de um discurso. Importante é olhar em frente, encarar a realidade e tentar transformá-la.
É isso que se espera. É isso que urge.
Fonte: aqui
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