Em sua exortação apostólica “Evangelii gaudium”, o Papa Francisco exorta cada igreja particular, porção da Igreja Católica sob a guia do seu bispo, à conversão missionária, que supõe uma saída constante às periferias do seu próprio território ou rumo aos novos âmbitos socioculturais.
Em outras palavras, que cada diocese tenha um impulso missionário cada vez mais intenso, generoso e fecundo, entrando em um processo decidido de discernimento, purificação e reforma.
E, como capitão de um barco, o primeiro em fazer seu este impulso é o bispo, quem, segundo o Papa, sempre deve incentivar a comunhão missionária em sua igreja diocesana, seguindo o ideal as primeiras comunidades cristãs, nas quais os crentes tinham um só coração e uma só alma.
Para isso, o Papa recorre a uma imagem que já utilizava quando era bispo de Buenos Aires e que, quando eu a comentei em um programa de rádio, um ouvinte me disse que isso não era magistério papal.
Pois bem, isso é sim magistério ordinário do Sucessor de Pedro, que diz sem hesitar que todo bispo “às vezes pôr-se-á à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa e, em certas circunstâncias, deverá caminhar atrás do povo, para ajudar aqueles que se atrasaram e sobretudo porque o próprio rebanho possui o olfato para encontrar novas estradas”.
Ou seja, hoje os bispos, além de docentes, são discentes do povo de Deus. E, para isso, destaca o Papa, cada bispo deve começar por “estimular e procurar o amadurecimento dos organismos de participação (...), com o desejo de ouvir a todos, e não apenas alguns sempre prontos a lisonjeá-lo”.
Os bispos não são imunes a esta típica tentação – talvez a menos grave, mas nem por isso a menos prejudicial – daqueles que têm certo poder no mundo: a de cercar-se de um grupo de protetores cuja única assessoria é bajulá-los, e que só servem para afastá-los da realidade, ou seja, do seu povo.
Manuel Bru, aqui
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