Conheço-a há muitos anos. Encontrámo-nos na semana passada. Sempre a conheci naquele estilo de vida, vivendo para os outros, sem campainhas, alarmes, primeiras páginas, homenagens ou louvores públicos. A discrição marca a sua maneira de estar no mundo.
E quando alguém lhe tece um louvor ou sussurra um agradecimento, não esconde o incómodo como se isso representasse um corte de asa... Assim, interrompe de imediato:
- Deixa lá isso... Estás bem? Conseguiste? Isso é que me interessa...
Falava comigo sobre a vida, dizendo que a melhor gratidão era sentir que havia tentado ajudar, mesmo quando os resultados não eram palpáveis.
- Sabe? Eu não sei se a discrição em mim é virtude ou defesa. É certo que por temperamento e por convicção, não gosto de elogios e dessas coisas assim. Mas às vezes dou comigo a pensar se não será uma maneira de me proteger contra a ingratidão para que esta não me aprisione. Há muita gente que tem as melhores intenções, faz, dedica-se, mas surgem as incompreensões e as ingratidões e ... desiste, como se as reacções desfavoráveis dos outros lhe tivessem cortado as asas e os sonhos.
Penso eu que mesmo que seja como "defesa", já é uma virtude. Não querer sentir-se prisioneira da ingratidão para manter as asas do serviço é de pessoa livre e, como tal, "faz o bem sem saber a quem".
A ingratidão machuca muito mais quem a pratica do que quem a recebe, suja e denigre muito mais quem a pratica do que quem a recebe.
Por isso, amigo leitor (a) que nenhuma forma de ingratidão ou de irreconhecimento lhe corte as asas...
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