terça-feira, 5 de outubro de 2010

Centenário da República

Faz 100 anos, neste dia 5 de Outubro, que a República foi implantada em Portugal. O tempo tudo cura e hoje poucos contestam este regime, que acabou por ser implantado na maior parte dos países do mundo. Mas a palavra "república" ainda tem , pelo menos em alguns idosos, uma conotação negativa. Ela traz à memória anarquia e instabilidade.

Essa instabilidade foi talvez o que mais marcou a 1.ª República. Tivemos 45 governos em apenas 16 anos! Havia os Partidos Democrático, Evolucionista e Unionista. Em 1917, Sidónio Pais lidera mesmo um golpe de estado e torna-se presidente da república, mas é assassinado no ano seguinte. Pouco depois, instala-se a monarquia do norte durante um mês, até que é destronada.

Uma das causas dessa instabilidade foi um conjunto de acções contra o sentir do povo, que acabaram por provocar também divisões nos próprios políticos. O combate aos trabalhadores, por causa das inúmeras greves que levaram a efeito, e à Igreja cria uma agitação social nunca vista em Portugal.

Todos os historiadores estão de acordo que os primeiros governantes republicanos foram longe de mais na sua batalha contra a Igreja. Logo no dia 8 de Outubro de 1910 foi decretada pelo Governo Provisório da República a expulsão de 359 jesuítas portugueses, 118 dos quais eram missionários que trabalhavam nas colónias portuguesas. Mas esta respondeu com coragem e não se submeteu apesar das prisões e desterros. Ainda conheci padres que foram escondidos por populares durante anos para que o governo os não prendesse.

No dia 20 de Abril de 1911 foi publicada a Lei de Separação da Igreja do Estado, que no seu 1.º artigo, afirmava que a "A República reconhece e garante a plena liberdade de consciência a todos os cidadãos portugueses e ainda estrangeiros que habitarem o território português». Mas o artigo 62.º da mesma lei nacionalizava todos os bens da Igreja, móveis e imóveis. Muitos desses bens foram parar às mãos de particulares. Dos padres quis fazer-se meros funcionários do Estado, em luta aberta contra os bispos, aliciando-os mesmo com uma pensão ou ordenado. Felizmente poucos foram nesse engodo.

Outros desmandos se cometeram contra o mais nobre sentir do povo, de que nem vale a pena aqui falar. A revolução de 28 de Maio de 1926 acabou por ser uma libertação deste estado de coisas. Com os custos que se lhe conhecem e que o povo teve de aguentar até Abril de 1974.

In O Amigo do Povo

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