quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Anti-clericalismo primário

Os portugueses têm uma enorme tendência para generalizar.
Um médico cometeu umas asneira, "pois, os médicos são assim, são assado..."
Um empresário foi apanhado nas malhas da corrupção, "pois os empresários, são assim, são assado..."
Uns pais não educam devidamente os seus filhos, "pois os pais de hoje são assim, são assado..."
Um padre falhou, "pois os padres são assim, são assado..."

Como estamos na Semana dos Seminários, permitam-me que me foque nos padres.
Num país maioritariamente católico, é estranho, mas é verdade, o anti-clericalismo reinante entre os portugueses. Certamente há motivos históricos que aqui não vêm ao caso. O que é certo é que a malidicência contra os padres é enorme. Muitas vezes, inventam-nas das unhas dos pés; outras vezes, de uma agulha fazem um palheiro.
A má-língua assenta sobretudo em duas coisas: o enriquecimento e a imoralidade.
- Todos os padres entraram pobres numa paróquia e saíram de lá ricos;
- Todos têm amantes, amores, ou situações imorais...

As lembranças de criança permanecem vivas em nós. Por isso, tenho o facto muito presente. Foi Há 50 anos. Tempo em que imensa gente trabalhava na agricultura que então exigia muitos "braços", sobretudo nas sementeiras, nas mondas e nas colheitas.
A determinada altura, lá vieram à baila os padres e toca a puxar do "corte e costura". Meu avô passa para a frente do pessoal e diz com um ar grave:
- Coitados dos padres! Na boca do povo nenhum presta. Ou se pega pelo cu ou pelas calças...E se olhásseis para vós e deixásseis os padres em paz!? Certamente não teríeis pouco que reparar...
Fez-se um silêncio profundo.
Pois, mas onde estão hoje pessoas desta estatura moral? Actualmente, se um diz mata, o outro diz enforca... Estamos no tempo, em que o que vale é "Maria vai com as outras..."

Se o padre fala alto, "só sabe ralhar, está sempre zangado. Afasta as pessoas..."
Se o padre fala baixo, " nem vale a pena cá vir. Faz-nos dormir..."
Se demora mais a Missa, "pensa que temos a vida dele..."
Se demora pouco, "nem deu tempo para a gente cá chegar..."
Se se ri, convive e é divertido, "é um mundano..."
Se é mais sério, mais distante, " não cativa ninguém. Tem a mania que é importante..."
Se tem carro novo, " isto é que é viver bem. Depois vai para a Igreja falar de caridade..."
Se tem um carro velho, "é um unhas de fome. Anda a poupar para deixar aos sobrinhos..."
Se vive sozinho, "é um solitário, só pensa nele..."
Se vive com familiares, "andamos nós aqui a pagar para ele sustentar a família..."
Se vive com outra pessoa, " uhmm! Há coisa ..."
Se apresenta as orientações da Igreja, "é um legalista, afasta as pessoas..."
Se procura manter as tradições, " é sempre a mesma coisa. Nada de novo acontece..."
Se dá mais impacto à inovação, " os padres fazem-nos perder a fé..."
Se vai a casa dos amigos que o convidam, "só liga a alguns..."
Se não vai a casa de ninguém, "é um bicho do monte, nem amigos tem..."
Se apela à oração, "é um beato..."
Se não apela à oração, "que está cá ele a fazer?..."
Se apresenta contas, "tenho mais que fazer do estar a ouvir os números... O que dei, dei..."
Se não apresenta contas, "mete o dinheiro da Igreja ao bolso..."
Se recebe os estipêndios pela administração dos sacramentos, "é um ganancioso..."
Se não recebe os estipêndios, "está rico, já não precisa..."
Se fala dos pobres, "é socialista ou comunista..."
Se não fala dos pobres, "está feito com os ricos..."
Se fala de justiça social e do sexo, "estes assuntos não são para a Igreja..."
Se não fala do sexo e da justiça social, "pois, ele quer é que todos paguem a côngrua. Não fala para que os ricos e imorais não se chateiem com ele..."
Se esta´presente nas reuniões de grupos, associações, irmandades, comissões, "é um controlador. Não respeita a liberdade dos leigos..."
Se não está presente, "não quer saber..."
Se envereda pelas novas tecnologias, "não tem mais que fazer..."
Se não envereda pelas novas tecnologias, "é um antiquado, não acompanha os tempos..."
Se está muito tempo numa paróquia, "nunca mais vai embora..."
Se muda frequentemente, "não presta, porque não aquieta em lado nenhum..."
Se veste bem, "é um vaidoso..."
Se não liga tanto ao aspecto exterior, "é um desleixado. Até nos envergonha..."
(...)
O importante mesmo é que cada pessoa ao deitar-se, faça o seu exame de consciência e se dê conta que pode dormir em paz.

3 comentários:

  1. como eu o etendo, e acredito que seja muito dificil lidar com o povo.nao sabemos agradecer o que azem por nos, o sacrificio que tantas vezes faz para cumprir os seus compromissos...o povo nao olha a isso.
    temos que agradecer por o termos nesta paroquia...OBRIGADO, DO FUNDO DO CORAÇÃO...
    Ana

    ResponderEliminar
  2. Obrigado, Ana, pela visita e pelo comentário amigo.
    Peço-lhe que não deize de visitar o blog da Paróquia de Tarouca.
    Obrigado.
    Muita paz no Deus da paz.

    ResponderEliminar
  3. como acredito e tenho medo há pessoas que só se dedicam na malidicência, sem valores sem respeito pelos outros, só lhe desejo tenha muita coragem e muita saúde, bem-haja por tudo que o Deus da paz esteja sempre presente.
    Cândida

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.