segunda-feira, 22 de junho de 2009

A história do João...

Filho de pai crente e de mãe religiosamente indiferente, o João cresceu nas franjas da Igreja. A influência materna é realmente importantíssima. O rapaz foi baptizado, fez a 1ª comunhão e... ficou por aí... Ao domingo, fazia como a mãe. O Pai ia sozinha à Missa.
Um dia chegou um padre novo à sua paróquia. Sacerdote zeloso, procurou acima de tudo atrair os jovens, aí como em tantos lados, afastados da Igreja. Dotado de imenso jeito para a música, afável e cativante, caiu muito bem junto da gente nova.
Sempre que vinha cá ao norte, o João entusiasmava-se quando falava do novo padre da sua comunidade. Que já ia à Missa, que participava no grupo de jovens, que agora sim, é que era maravilhoso. E contava detalhadamente as muitas actividades em que participava, desenvolvidas pelos jovens da sua terra.
Sempre o entusiasmei, mas sempre lhe referi que não ficasse nas pessoas, por mais brilhantes que pudessem ser. Que caminhasse para Cristo, que fizesse d'Ele o centro do seu viver e agir.
Soavam-lhe a ofensa as minhas palavras. Que o tal padre era espectacular, que nunca o desiludiria, que tal e coisa...
E foi assim durante bastante tempo.
Certo dia, apareceu cabisbaixo, quase nem falava, quase a fugir. Esperei a ocasião adequada e perguntei-lhe o que se passava. Tinha abandonado o grupo, a Igreja. "Nem me fale nesse padre!"
O sacerdote nada fez de mal, o João é que estava apaixonado e pensou que o padre andaria a "arrastar a asa à sua namorada". Tontices que a ciumite provoca num coração jovem...
Com a grande confiança que tinha com ele e com a família, fui duro e curto:
- O que precisavas mesmo era de duas lostras nessa cara! Não te pedi tantas vezes para não ficares nas pessoas, mas seguires para Cristo!?
O João encolheu os ombros e debandou.

A verdade da vida aí está:
- Ou a família cria raizes fundas, alicerça a fé, ou tudo será difícil. Podem surgir fogachos, mas não passam disso... fogachos!
- O povo tem razão quando afirma que "alguns ficam nos santos em vez de irem directamente a Deus."
Aplicando, só Deus não falha, só Deus merece a nossa adesão incondicional, só Deus dá sentido à existência.
Quando nos agarramos apenas às pessoas, estas podem a qualquer momento decepcionar-nos.

Aquela família que conheci em tempos e que tinha tido um problema grave com o pároco da sua paróquia, ia à Missa cada domingo. E quando as pessoas, infelizmente sempre mais disponíveis para fazer crescer muros do que para ajudar a derrubá-los, lhe diziam:
- Ai, se fosse comigo, nunca mais iria a uma Missa celebrada por este padre!
O Casal respondia:
- Mas nós não vamos lá por causa do padre, mas por causa de Cristo. E Esse nunca nos falha!

Desculpem-me, amigos, mas é o que penso. Considero uma verdadeira tonteria, um perfeito disparate aquilo que tantas vezes se ouve a respeito do abandono de alguns por causa dos defeitos dos padres, dos catequistas, dos praticantes. Afinal, qual é o deus dessa gente? Não será antes uma "desculpa de mau pagador"?

Que os padres devem esforçar-se por ser santos, nem duvido. Mas só eles? A vocação à santidade, à perfeição, à conversão de vida não é para todos?

3 comentários:

  1. Sim, é para todos (leigos e padres), mas mais, muito mais, para os padres...
    Porventura, estes não se consagraram "totalmente" ao Senhor?
    Não devem dar assim o bom exemplo, sempre, sobretudo eles?
    Se o bom exemplo não vem de cima, de onde (normalmente) poderá vir?
    Por outro lado, em igualdade de circunstâncias (perante a mesmíssima falta grave), não escandaliza muito mais um clérigo do que um leigo?
    A vida religiosa, e sobretudo a sacerdotal, não constitui um dom especialíssimo, um carisma extraordinário, de Deus?
    Deus não irá exigir (tal como consta na parábola evangélica dos talentos) muito mais a um leigo religioso do que a um não religioso, muito mais a um presbítero do que a religioso consagrado, muito mais a um bispo do que a um presbítero?
    Rezo por todos, principalmente pelo clero e também pelos religiosos que, natural e logicamente, devem fazer, moral e espiritualmente, pelos seus carácter e votos sagrados, mais, muito mais e melhor, do que um simples leigo, salvo raras excepções.
    Um cristão amigo.

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  2. Bela historia!
    Os alicerces são muito importante mas na minha opinião nós somos aquilo que fazemos!
    Neste caso como os de muitos outros, há maior relevância da auto-afirmação do que origem familiar.
    Ahhh isso dos ciumes do pe. acontece muitas vezes porque quando se está apaixonado fica-se cego. Apesar de achar também uma estupidez... percebo a sua insegurança.

    Nota: conte-nos mais desta historias

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  3. Caros amigos, obriago pela colaboração.

    O chamamento à santidade, é uma uma vocação universal. E isto é uma proposta essencial de Jesus Cristo. Seja padre, religioso ou leigo. Felizmente que a santidade não é um privilégio só ao alcance de alguns. Felizmente que cada pessoa é um ser muito amado pelo Pai. Felizmente que Deus não faz acepção de pessoas. Se todos somos igualmente baptizados, todos somos igualmente chamados à santidade. Por caminhos diferentes? Certo. Mas a santidade é a meta a atingir por todos, digo, TODOS!
    É Deus quem salva. Mas serve-Se de seres em tudo iguais aos seus irmãos. Com virtudes e defeitos, com altos e baixos. Ou não foi assim com os apóstolos??? Não haveria no tempo de Jesus gente mais "santa" do que os apóstolos? Certamente. Mas foi a estes que Jesus escolheu e destinou.
    Isto de exigir "mundos e fundos" aos padres e depois desculpar todas as falhas dos outros cristãos, além de não ser humano, não é cristão. Se Jesus pensasse assim, Pedro, após o seu crime, teria sido destituído do seu múnus. E não foi!
    Fala-se muito nos votos sacerdotais. Fale-se também no compromisso matrimonial. Aí a FIDELIDADE é ontológica ao Sacramento. Não é um questão disciplinar como a castidade na ordem.
    Não se faça do padre aquilo que ele não é: um super-homem. E mais, quanto mais formos exigentes para connosco mesmos, mais tolerantes e compreensíveis seremos para com as fraquezas dos outros.
    Muitas vezes o exigir "mundos e fundos aos padres", o estar sempre a "bater no ceguinho" pode ser uma forma de nos desculparmos das nossas faltas, de fugirmos de nós mesmos.
    E lembrem sempre, por favor. IGREJA somos TODOS NÓS. Todos os que acreditam em Jesus Cristo e n'Ele foram baptizados.
    Não exijamos mundos e fundos aos outros, comecemos por ser exigentes connosco mesmo!
    Muita paz n'Aquele que nos liberta.

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