II. Algumas condições para que o diálogo se transforme num espaço de acolhimento do outro e doação ao outro, de escuta e de presença, de comunicação do coração ao coração!
1º Clareza, para que todas as palavras e gestos sejam compreendidos por ambas as partes. Esta clareza supõe atenção ao que se diz e atenção ao que o outro diz. Esta clareza exige falar verdade. Faltar à sinceridade é destruir, pela base, qualquer diálogo!
2º Mansidão, aprendida na escola de Cristo, como Ele nos recomendou: “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). O diálogo não é orgulhoso, não é altivo, não é ofensivo. A autoridade vem-lhe da verdade que expõe, da caridade que difunde, do exemplo que propõe; é proposto, não é imposto. O diálogo é pacífico, evita os modos violentos, é paciente e é generoso. Por isso, ele supõe a humildade, a disposição para reconhecer com apreço a parte de verdade que o outro tem e a parte de erro ou culpa que eu possa ter.
3º Confiança, a boa fé, a recta intenção, com que cada parte para a conversa, sem preconceitos, aceitando o outro, respeitando-o e colocando-se do seu lado, para compreender o seu ponto de vista. Só a confiança facilita a partilha de sentimentos, de vivências, de confidências, e enlaça os corações, numa adesão mútua ao Bem e à verdade, sem interesses egoístas.
4º Prudência: é preciso saber as condições psicológicas e morais, daquele(s) com quem quero falar: se é criança, se é inculto, se está indisposto, se parte para a conversa desconfiado ou hostil. Essa prudência leva a tomar pulso à sensibilidade alheia e a modificarmos as nossas palavras e modos, para não sermos desagradáveis, nem incompreensíveis.
5º Saibamos ainda preparar um diálogo sério com o outro, conversando primeiro com Deus, pedindo-lhe discernimento e sabedoria, para aquilo que queremos compreender, propor, mudar ou alcançar. Tomemos como guia e inspiração do diálogo com o outro, não as nossas opiniões, razões e vontades, mas uma palavra do evangelho. E peçamos a Deus que seja Ele a preparar a hora, o modo e o lugar, para um diálogo frutuoso na paz.
III. Custa muito chegar a um verdadeiro diálogo. E por isso, o diálogo exige uma espécie de “martírio da paciência”, o esforço e a coragem de todos os dias, para ir ao encontro do outro, em diálogos frequentes, prolongados e sinceros. Casais, pais e filhos, esta arte do diálogo - exige tempo, muito tempo, paciência, muita paciência, para ser tomado a sério e retomado, uma e outra vez e mais uma vez, sem quebrar o fio frágil da comunicação! Não por acaso, alguém nos disse que a «paciência é a última porta da sabedoria» (Agustina Bessa-Luís), é mesmo «a medula do amor» (Sta. Catarina), no relacionamento com os outros. E São Paulo, no hino à caridade, fala-nos da paciência, como primeiro atributo do amor!
Nos dias de hoje, é importante ressaltar o valor da paciência, virtude que pertencia à bagagem normal dos nossos pais, mas que hoje é menos popular, num mundo que exalta a mudança e a capacidade de se adaptar a situações sempre novas e diversas. Sem tirar nada a estas qualidades, somos chamados a incrementar a paciência, aquela tenacidade interior, aquela resistência do ânimo que nos permitem não desesperar, na expectativa de um bem que demora para chegar, mas a esperá-lo, aliás, a preparar a sua vinda, com confiança laboriosa” (Bento XVI).
Diálogo e paciência: duas palavras mais a escrever no diário íntimo da nossa vida familiar!
Pai ou mãe, casal, filho (a): neste tempo, que te é dado, oferece o tempo, para os outros. E comunica, na verdade e na caridade paciente, de acordo com este repetido apelo de Santo Agostinho: “Se calas, cala por amor. Se falas, fala por amor. Se corriges, corrige por amor. Se perdoas, perdoa por amor. Põe no fundo do coração, a raiz do amor. Dessa raiz não pode crescer senão o bem”.
E lembra-te sempre do fruto mais precioso do diálogo e da paciência é o de criar laços: «foi o tempo que gastaste com a rosa, que tornou a tua rosa tão importante»! (Saint Éxupery, O Principezinho).
Com base em aqui
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