quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Empresa produz sacos para cadáveres

EM MOIMENTA DA BEIRA
O negócio é único no país. Como também é singular a história da família Figueiredo. Há quatro anos, Fernando, a mulher e os três filhos trocaram Lisboa por Moimenta da Beira. Uma mudança que contraria as tendências, numa altura em que se adensa o despovoamento do interior. Ao êxodo, juntar-se-ia então uma peculiaridade: os ‘Figueiredo’ trouxeram com eles urna empresa ímpar: a “Lado Alto”, a tal que é única no fabrico de sacos para cadáveres. A ideia de mudar para o interior quando tantos dele fogem, surgiu a reboque do negócio. Numa ocasião, a venda de material hospitalar para Armamar e Tarouca proporcionou uma visita à região e Fernando ficou “agradavelmente surpreendido”. Pouco tempo depois instalaram-se de armas e bagagens em Moimenta da Beira.
Dificuldades de adaptação? “Nenhumas”, só mesmo em arranjar empregados, tal é a natureza
bizarra do negócio. Falemos dele agora, então.
Fernando sempre trabalhou com material de consumo hospitalar. Entre fatos, batas, túnicas,
fronhas e calções, há um artefacto que fabrica que é especialmente curioso e o único comercializado no país com etiqueta portuguesa: o saco para cadáver. Preto ou branco, à medida do ‘cliente’, em nylon ou PVC, com ou sem asas, mas com selo de qualidade e garantia, “em nada comparados com o produto chinês”. O único concorrente no mercado nacional.

É no rés-do-chão do prédio onde mora que foi crescendo a “Lado Alto”. Máquinas de costura e rolos de tecido proliferam em cada canto dos 120m2 da fábrica improvisada, lado a lado com dois caixões. Vieram para tirar as medidas para os sacos e por ali foram ficando, quais objectos de decoração. De resto, não incomodam ninguém, muito menos Fernando que durante seis anos fez autópsias. Talvez por isso saiba tanto sobre a actividade e dela fale com tanta naturalidade. Fernando é “tu cá, tu lá” com a ‘morte’, como ele próprio assume.
Três funcionários, num trabalho feito artesanalmente, cortam e cozem o tecido e os fechos para os sacos. Outrora o número de empregados chegou à dezena. Tempos de crise? Fernando encolhe os ombros com a pergunta e responde: “até temos muito trabalho”.
Tem nas mãos 90 por cento do mercado nacional. E produz ainda mais para Espanha. O país vizinho vai mesmo receber um escritório da empresa. As exportações para Angola e Brasil só agora começaram mas também prometem ser uma boa aposta.
Jornal da Beira, 1/12/2011

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