Eis um post de suma pertinência. Afirmação certeira, pergunta acutilante.
A verdade não está, necessariamente, nas maiorias. Como não está, obrigatoriamente, nas minorias.
O principal motivo é que a verdade não é uma questão de número. A verdade pode estar na maioria, mas não é por ser maioritária; é por ser verdadeira. O mesmo se diga da minoria. Uma verdade pode estar a ser defendida por uma minoria, mas não é por ser minoritária que é verdadeira.
A suspeita que recai sobre a maioria é que muita gente gosta de estar com o maior número. Traz menos problemas. Não obriga a pensar tanto. Se toda a gente pensa assim é porque é verdade. Eis a ilação de não poucos.
Mas o mesmo receio pode haver em relação às minorias. Há quem goste de discordar, de dissentir só para não estar com a maioria. Portanto, o critério, neste caso, também não é a busca da verdade.
É claro que, à partida, é sempre de admirar quem ousa manter o que pensa ou o que sente mesmo que esteja minoritário. E não esqueço o que dizia o grande Arnold Toynbee: «O futuro será das minorias criativas».
Mas, em si mesma, a verdade não está na maioria nem na minoria. A maioria ou a minoria é que devem estar na verdade.
A verdade está mais do lado da procura do que da posse. Zubiri advertia que não se trata de possuir a verdade, mas de se deixar possuir pela verdade.
Tanta importância dava o filósofo basco à questão da verdade que até cunhou o neologismo verdadear.
A verdade pode ser parodoxal. Aliás, Agostinho da Silva, com o talante provocatório que estava ínsito no seu ser, dizia não ser ortodoxo nem heterodoxo porque cada um só lhe dava parte da realidade. Ela considerava-se do paradoxo porque era este que lhe oferecia a realidade no total.
E o certo é que a verdade tem algo de único e, ao mesmo tempo, de universal. Ela pode vir através de um único e, simultaneamente, desabrochar em todos.
Cristo esteve praticamente só na proclamação e na defesa da verdade. Ele mesmo é a Verdade. Deu a vida pela Verdade.
O grande critério da verdade é a experiência e o testemunho. Mas, ainda que a verdade seja, em determinados momentos, assumida por um único, ela germina em todos, em tudo.
Pode estar lá no fundo, numa profundeza insondável, mas está. Ela tem uma dimensão holística, cósmica.
Hegel sustentou que «a verdade é o todo». E era com um lastro hegeliano que von Balthasar afirmava que «a verdade é a totalidade».
Daí que a verdade não se possa compartimentar. Há muita sapiência nas grandes construções. Um dos dramas da pós-modernidade (Luc Ferry recorda-no-lo uma vez mais) é a tendência para os atalhos, para a parcialização, para o ofuscamento do todo.
Já S. Justino apela para as «sementes do Verbo» (que é como quem diz as «sementes da Verdade») que Deus disseminou por todos.
Cada ser humano é depositário da Verdade. Não apenas da sua verdade. Mas da Verdade. Não cessemos de a procurar. Nem nos cansemos de a viver.
Abraço amigo, cheio de admiração e involucrado na mais intensa comunhão.
A democracia, já que o povo detém o poder político, mas não consegue exercê-lo em multidão, consubstancia-se na outorga às maiorias do direito de constituírem governo, desde que elas emerjam da vontade popular legítima e claramente expressa. Mas esse direito de governar não é absoluto e, por isso, exige a institucionalização do respeito efectivo pelo direito que as minorias têm de se manifestarem e de usufruírem do seu próprio espaço. Também implica a obrigatoriedade da periodicidade da consulta popular para a constituição de governo e o refrendo para quando a decisão política tenha de recair em matérias importantes e referendáveis que não hajam sido contempladas nos programas eleitorais apresentados a sufrágio. Mais: quando os poderes descobrirem que a verdade está do outro lado, devem assumi-lo com humildade e eficácia, não se apropriando abusivamente do património cultural alheio, mas utilizando-o, em nome do superior interesse da colectividade e no respeito pelo direito autoral. Porque a verdade está seminalmente entregue a todos, porque todos somos inspirados pela lucidez do são humanismo e porque todos conhecemos os limites da condição humana - é-nos reconhecido o direito de intevir civicamente sempre que o julguemos oportuno (a que corresponde o dever de o fazermos), mas cabe aos decisores, após correcta ponderação dos nossos contributos, a assunção da via que lhes parecer mais correcta.
Bom Amigo:
ResponderEliminarEis um post de suma pertinência. Afirmação certeira, pergunta acutilante.
A verdade não está, necessariamente, nas maiorias. Como não está, obrigatoriamente, nas minorias.
O principal motivo é que a verdade não é uma questão de número. A verdade pode estar na maioria, mas não é por ser maioritária; é por ser verdadeira. O mesmo se diga da minoria. Uma verdade pode estar a ser defendida por uma minoria, mas não é por ser minoritária que é verdadeira.
A suspeita que recai sobre a maioria é que muita gente gosta de estar com o maior número. Traz menos problemas. Não obriga a pensar tanto. Se toda a gente pensa assim é porque é verdade. Eis a ilação de não poucos.
Mas o mesmo receio pode haver em relação às minorias. Há quem goste de discordar, de dissentir só para não estar com a maioria. Portanto, o critério, neste caso, também não é a busca da verdade.
É claro que, à partida, é sempre de admirar quem ousa manter o que pensa ou o que sente mesmo que esteja minoritário. E não esqueço o que dizia o grande Arnold Toynbee: «O futuro será das minorias criativas».
Mas, em si mesma, a verdade não está na maioria nem na minoria. A maioria ou a minoria é que devem estar na verdade.
A verdade está mais do lado da procura do que da posse. Zubiri advertia que não se trata de possuir a verdade, mas de se deixar possuir pela verdade.
Tanta importância dava o filósofo basco à questão da verdade que até cunhou o neologismo verdadear.
A verdade pode ser parodoxal. Aliás, Agostinho da Silva, com o talante provocatório que estava ínsito no seu ser, dizia não ser ortodoxo nem heterodoxo porque cada um só lhe dava parte da realidade. Ela considerava-se do paradoxo porque era este que lhe oferecia a realidade no total.
E o certo é que a verdade tem algo de único e, ao mesmo tempo, de universal. Ela pode vir através de um único e, simultaneamente, desabrochar em todos.
Cristo esteve praticamente só na proclamação e na defesa da verdade. Ele mesmo é a Verdade. Deu a vida pela Verdade.
O grande critério da verdade é a experiência e o testemunho. Mas, ainda que a verdade seja, em determinados momentos, assumida por um único, ela germina em todos, em tudo.
Pode estar lá no fundo, numa profundeza insondável, mas está. Ela tem uma dimensão holística, cósmica.
Hegel sustentou que «a verdade é o todo». E era com um lastro hegeliano que von Balthasar afirmava que «a verdade é a totalidade».
Daí que a verdade não se possa compartimentar. Há muita sapiência nas grandes construções. Um dos dramas da pós-modernidade (Luc Ferry recorda-no-lo uma vez mais) é a tendência para os atalhos, para a parcialização, para o ofuscamento do todo.
Já S. Justino apela para as «sementes do Verbo» (que é como quem diz as «sementes da Verdade») que Deus disseminou por todos.
Cada ser humano é depositário da Verdade. Não apenas da sua verdade. Mas da Verdade. Não cessemos de a procurar. Nem nos cansemos de a viver.
Abraço amigo, cheio de admiração e involucrado na mais intensa comunhão.
A democracia, já que o povo detém o poder político, mas não consegue exercê-lo em multidão, consubstancia-se na outorga às maiorias do direito de constituírem governo, desde que elas emerjam da vontade popular legítima e claramente expressa. Mas esse direito de governar não é absoluto e, por isso, exige a institucionalização do respeito efectivo pelo direito que as minorias têm de se manifestarem e de usufruírem do seu próprio espaço.
ResponderEliminarTambém implica a obrigatoriedade da periodicidade da consulta popular para a constituição de governo e o refrendo para quando a decisão política tenha de recair em matérias importantes e referendáveis que não hajam sido contempladas nos programas eleitorais apresentados a sufrágio.
Mais: quando os poderes descobrirem que a verdade está do outro lado, devem assumi-lo com humildade e eficácia, não se apropriando abusivamente do património cultural alheio, mas utilizando-o, em nome do superior interesse da colectividade e no respeito pelo direito autoral.
Porque a verdade está seminalmente entregue a todos, porque todos somos inspirados pela lucidez do são humanismo e porque todos conhecemos os limites da condição humana - é-nos reconhecido o direito de intevir civicamente sempre que o julguemos oportuno (a que corresponde o dever de o fazermos), mas cabe aos decisores, após correcta ponderação dos nossos contributos, a assunção da via que lhes parecer mais correcta.