Tenho pensado algumas vezes na situação pastoral e económico-social dos padres.
1. Os sacerdotes de hoje, ao contrário de antigamente, não têm, no geral, o acompanhamento de uma familiar que lhes dê alguma garantia na sua velhice ou doença. Por isso, as dioceses tudo devem fazer para proporcionar condições razoáveis aos seus padres doentes, velhos ou cansados. Sei que muitas levaram a peito esta realidade. Urge que sejam todas.
2. A pastoral de "quintalinho" já era. É preciso abrir horizontes em ordem à implantação de espaços pastorais. A mobilidade e exigências actuais não se adequam muito com a ideia dos limites da paróquia.
3. Segunda a minha maneira de ver, o ideal seria que houvesse uma casa onde vivessem os sacerdotes que trabalham numa zona com certa homogeneidade social (em muitas situações poderia nem ser o arciprestado actual) . Cada um deles se dedicaria a um campo de apostolado mais conforme com as suas qualidades e aptidões, dentro de um plano pastoral concreto. E neste caso, a presença de um ou dois sacerdotes velhos ou cansados poderia ser uma boa ajuda, não só pela experiência, mas também porque poderia libertar os colegas para trabalhos mais apostólicos... Além disto - é importantíssimo - os mais idosos continuavam a sentir-se úteis e integrados.
Caso não seja possível viver em comum, que houvesse um plano comum aberto especificidade de cada um.
4. Na preparação dos futuros padres, a formação para a vida em comum tem que ser profunda e sólida. A formação de equipas sacerdotais não pode ser um acto "ad hoc", muito menos imposto, mas deve brotar espontaneamente dos seus integrantes.
5. Os grandes santuários devem merecer toda a atenção. Para muitos cristãos ainda são um fio ténue que os liga à Igreja. Será importante olhar a sério para esta situação. Quantos sacerdotes, cansados pelo labor pastoral, não poderiam encontrar aqui também um campo frutuoso de trabalho? Por exemplo, dedicando um tempo do dia ao serviço da Confissão e do acolhimento das pessoas... Era uma questão de dar a esses padres condições razoáveis de instalação, o que nos grandes santuários nem é difícil.
6. É mais que tempo de investir nos leigos e escancarar-lhes todas as portas abertas pelo Vaticano II. Muitas tarefas burocráticas, económicas, obras, pastorais podem e devem ser perfeitamente executadas por eles. Libertaríamos os padres para o seu núnus específico e para a partilha com Igrejas mais carenciadas.
7. Nas dioceses mais pobres do interior, muitos padres procuraram, sobretudo nas escolas, meios de subsistência. Penso que tal foi benéfico socialmente no tempo da grande expansão escolar em que não havia professores suficientes. Hoje não é o caso. Há muitos professores desempregados e, por esta razão, nem sempre a presença dos padres na escola é bem vista. Aliás, excepto pela porta da Religião e Moral, não têm, geralmente, acesso ao ensino.
Estes sacerdotes, porque trabalharam duplamente - paróquia e escola - desgastam-se muito mais.
Penso que hoje a vida sacerdotal não deve passar pelo ensino. Deixemos isso para os leigos. Os padres têm muito mais que fazer dentro do seu campo específico que é actualmente muito exigente.
8. Muitas dioceses, sobretudo do interior, descansaram "à sombra da bananeira", já que tinham garantida a subsistência da maioria dos seus padres através da actividade lectiva. Só que a escola foi... Urge resolver condignamente a sustentação dos padres, sobretudo dos mais novos. Paróquias envelhecidas e despovoadas têm muita dificuldade em o fazer. Há que recorrer à "fantasia da caridade solidária". Há que institucionalizar meios que garantam a dignidade.
Por último, e o último neste caso é o primeiro, o padre tem que ser sempre o homem de Deus, da oração. Para isto não lhe pode faltar tempo sob pena de ser tornar um barco à deriva! Quanto mais orante e homem de comunhão sacerdotal ele for, mais sinal e apóstolo para as pessoas.
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