quarta-feira, 5 de março de 2008

Fui polícia, fui soldado...

Filho de louletanos, António Fernandes Aleixo nasceu na vila pombalina de Vila Real de Santo António, em 18 de Fevereiro de 1899. No emaranhado de uma vida recheada de pobreza e de canseiras, na sua figura de homem simples, havia o perfil de uma personalidade vincada.
Sob o «ler, escrever e contar» da sua modesta escolaridade, escondia-se o vulto notável de um poeta insigne que, na profundidade filosófica dos seus versos, ditou ao mundo um conceito muito pessoal da própria vida.
Contador e tocador por feiras e mercados, cauteleiro anunciante de uma sorte que nunca teve, António Aleixo legou-nos documentos literários de extraordinário valor.
«Este livro que vos deixo», «O Auto do Curandeiro», «O Auto da vida e da Morte», o incompleto «O Auto do Ti Jaquim» e «Inéditos» constituem a produção poética daquele que foi o mais notável dos poetas populares.

António Aleixo visa nos seus versos os altos responsáveis, que fazem promessas vãs ao povo. Apesar de pouco instruído, é sensível à mentira e à hipocrisia:
Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo
Calai-vos, que pode o povo
Qu'rer um mundo novo a sério.


Critica também a falta de vontade de todos os cidadãos na conjugação de esforços para a construção de uma sociedade mais justa:
Que o mundo está mal, dizemos
E vai de mal a pior;
E, afinal, nada fazemos
Para que ele seja melhor.

Como espelho de uma autobiografia, registamos uma das mais populares quadras da sua autoria, que traduz bem a multiplicidade das suas vivências.
Fui polícia, fui soldado,
Estive fora da nação;
Vendo jogo, guardei gado,
Só me falta ser ladrão.
http://www.prof2000.pt/users/hjco/aleixvic/Aleixo.htm

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