quinta-feira, 6 de março de 2008

Procissões, procissões, procissões...

Um amigo costuma dizer muitas vezes a brincar: "O nosso povo gosta é de procissões, procissões, procissões...
E então se levar muitos anjinhos, muitas figuras, andores enormes, duas ou três bandas de música, muita encenação, o povo delira!"

Também gosto de algumas procissões: aquelas em que o povo caminha em vez de ficar a observar, o povo canta e reza.
Respeito, repito para evitar desentendidos, respeito! Mas aquelas procissões com muita encenação, mas vazias de participação... Não fazem o meu género.

As procissões lembram-nos dois aspectos fundamentais:
1º - Somos um povo, o Povo de Deus.
2º - Somos um povo que caminha. Caminhamos para a Casa do Pai. Não somos deste mundo. Vivemos neste mundo, somos chamados a deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontramos, mas não somos daqui. A nossa meta é a Casa do Pai. Nesta perspectiva, que sentido tem ficar a ver a procissão a passar em vez de nos incorporarmos nela???

Normalmente, regresso das procissões com alguma inquietação espiritual, pelo facto de ver ali uma multidão de gente mais atraída pela curiosidade do que propriamente pela fé...
Eu sei que é a religiosidade que leva as pessoas a estas manifestações exteriores. E ainda bem que assim acontece. No entanto, parece-me que, hoje em dia, muita gente, em matéria de fé, fica apenas pela rama, pela aparência, sem um verdadeiro compromisso de vida. Porque, no meu entender, o cristianismo não deve ser apenas um modo de acreditar, mas deve ser sobretudo um modo de viver.
Estas manifestações de religiosidade popular não são um autêntico alimento, embora possam chamar a atenção para a necessidade e para as formas de o cristão saciar a sua fome e a sua sede...
O verdadeiro alimento da vida cristã encontra-se sobretudo na frequência dos sacramentos, em especial o da Eucaristia e o da Penitência. Não foi só para entusiasmar os ouvintes que Jesus disse que Ele mesmo é o pão do céu, e que "quem comer deste pão viverá". Foi porque Ele sabia que o alimento para este modo de viver a fé cristã é a Eucaristia.

Por que será que as pessoas acorrem em multidão às procissões e ficam em casa na hora da Eucaristia?
Por que será que as pessoas são capazes de gastar dinheiro em viagens para ir ver uma procissão e não dão um passo para se confessar?
Por que será que tanta gente se aglomera para ver passar uma procissão e deixa a Igreja vazia na Hora de Adoração ao Santíssimo Sacramento?
Por que será que as pessoas se dispõem a aguardar tempos infindos pela passagem da procissão e não têm tempo para um curso bíblico, uma acção de formação, uma reunião?
Por que será que as pessoas divulgam interessadamente um acontecimento que tem a ver com a religiosidade popular e não têm coragem para dar testemunho da sua fé na família, no trabalho, no convívio?
Por que será que as pessoas têm disponibilidade para as procissões e não a têm para o trabalho sócio-caritativo e pastoral na sua comunidade?
Não será porque existe religiosidade a mais e fé a menos???

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